Anderson Glaucius é proprietário do sebo Porão na Rua Ferreira Penteado há mais de uma década. Porém, há cerca de oito anos, ele confessa que quase desistiu do negócio. “Ninguém mais se interessava por livros.” Um público bem específico salvou o estabelecimento, que se mantém na ativa forte como nunca: os jovens. “E eles são o nosso grande público até hoje”, revela. Sim, a molecada está lendo mais. E já faz um bom tempo. O motivo é claro para todos do setor livreiro. O fenômeno Harry Potter, de J. K. Rowling, não só reapresentou o livro aos jovens, como desencadeou uma verdadeira bola de neve, em que inúmeras outras obras fantásticas são lançadas o tempo todo e, consequentemente, consumidas cada vez mais.
Um recente levantamento promovido pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) confirma isso. A pesquisa, com 12 mil internautas entre 16 e 25 anos, constatou que 44,74% dos entrevistados leem pelo menos um livro por mês. Algo muito positivo, claro. A pergunta que fica, entretanto, é: o que esses jovens estão lendo? Como dito, principalmente os best-sellers. Surge então uma nova pergunta: e os clássicos, que existem há anos, décadas e séculos antes dos livros da moda, são lidos pelos jovens?
Sim. Mas são poucos. Muito poucos. Ou melhor, são raros os adolescentes que separam algumas horas (ou minutos que sejam), diante de tanta oferta tecnológica, para se debruçar em obras que marcaram época principalmente pela qualidade. Não que os livros atuais que vendem milhões de exemplares sejam ruins (nem todos, pelo menos). Por outro lado, a literatura bem escrita, instigante, surpreendente e com personagens envolventes está disponível no mercado há muito mais tempo, pronta para ser consumida. Só falta interesse.
“Numa sala de 36 alunos, em média, eu tenho seis ou sete que leem. Lembrando, leem qualquer coisa, como Harry Potter. E isso quando a sala é boa. Agora, os que procuram os clássicos, esses realmente são exceção. Nós temos na escola uma sala de leitura com todas as obras famosas, de autores renomados, mas praticamente ninguém se interessa”, conta a professora da rede estadual de ensino, Cláudia Fonseca.
Mitologia
Entre as exceções está Jonathan Ribeiro, de 14 anos. O jovem, que estuda na Escola Procópio Ferreira, só este ano devorou nove livros (nenhum best-seller atual), entre eles, acredite, Ilíada e Odisseia, de Homero. “Essas coisas de fantasia que estão saindo não são para mim. Sempre gostei de mitologia grega. É algo que me fascina. Homero foi indicação da professora e simplesmente amei. Toda a trama de Ulisses e a guerra de Troia e o famoso cavalo são incríveis. E não há imagens, fotos, desenhos. Temos de usar a imaginação. Gosto de pensar como era aquela época, como eles viviam, os seres mitológicos. É disso que eu gosto.”
O atual livro “de cabeceira” de Jonathan é As 100 Melhores Histórias de Mitologia, forma que ele encontrou para entrar ainda mais nos principais episódios envolvendo deuses e deusas do Olimpo, mortais, imortais, monstros e bestas, todos relatos na forma original, mas com o vigor da ficção.