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A Irmandade da Misericórdia, que se instalou na Capitania de São Vicente em 1543, consta como a primeira entidade filantrópica do Brasil. Sem esperar nada em troca, monges doavam roupas, comida e bens materiais para os pobres. Até os anos 80, o perfil do voluntariado não era muito diferente do que se via naquela época. “Se contava muito com a paixão dos voluntários e a atividade social não era estruturada”, explica Camila Asano, coordenadora de política externa e direitos humanos da Conectas, que tem status consultivo junto à Organização das Nações Unidas (ONU) e trabalha para promover a efetivação dos direitos humanos na África, América Latina e Ásia.
 
Com o aumento do investimento da iniciativa privada e a profissionalização dessas organizações, o cenário começou a tomar nova forma e as oportunidades de emprego no campo social aumentaram consideravelmente.
 
A mudança não foi apenas na quantidade de empregos oferecidos. Uma pesquisa feita no começo deste ano pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife) revelou que não há grandes disparidades entre o salário base de quem trabalha em organizações do terceiro setor e dos profissionais da iniciativa privada. A principal diferença se encontra nos benefícios e na remuneração variável, fatores que contribuem para elevar a renda total do segundo grupo. “Hoje, o investimento social no Brasil vem se estruturando e, cada vez mais, se mostra como uma opção de carreira possível”, afirma a coordenadora da Conectas.
 
Salários compatíveis em RI - Camila, de 28 anos, é um exemplo de profissional que se deu bem no terceiro setor. Formada em Relações Internacionais, com mestrado em Ciência Política, ela começou atuando como voluntária quando ainda era universitária. Depois de dois anos na organização, foi contratada e, em 2011, promovida a coordenadora, liderando os projetos na área de relações internacionais e participando de palestras e encontros internacionais. "Além da satisfação muito grande em poder atuar na área em que me formei, trabalho numa organização em que eu acredito nos propósitos e valores", diz Camila, cujo salário mensal na Conectas gira em torno de 5 a 7 mil reais – um rendimento comparável ao que receberia numa grande empresa.
 
Também graduada no curso de Relações Internacionais e atual coordenadora de produtos do site de compras coletivas Groupon, Stella Soares, de 28 anos, sempre mirou seu futuro profissional no setor privado, desconsiderando as opções de trabalhar no terceiro setor ou no Estado. “Para a minha carreira, este é o lugar perfeito: tudo é muito rápido, dinâmico, para ontem”, diz ela. Além da pressão por resultados, outro fator que a atrai é o desenvolvimento profissional, impulsionado por treinamentos e possibilidades reais de crescimento.
 
Diferentemente da maioria das ONGs, o Groupon oferece remuneração variável de acordo com o desempenho do funcionário. “Minha promoção veio assim. Esse é um aspecto que me atrai muito, pois vejo meu trabalho reconhecido rapidamente. Não precisei esperar meu chefe se aposentar para receber uma promoção”, diz Stella. O Groupon não divulga os vencimentos que paga aos seus funcionários, apenas o pacote de benefícios, que inclui vale-transporte, vale-refeição, assistência médica, seguro de vida, celular corporativo e laptop com acesso à Internet. Porém, de acordo com a consultoria Hays, um profissional que ocupa uma posição de coordenação há menos de dois anos em empresas de e-commerce recebe, em média, 6 mil reais por mês.
 
Oportunidades de crescimento - Um ponto delicado para quem decideapostar no terceiro setor é a possibilidade de crescimento e desenvolvimento profissional. Camila não enfrenta esse problema na Conectas. Ela já teve a oportunidade de fazer cursos e treinamentos e frequentemente representa a organização em reuniões da Organização das Nações Unidas  (ONU) e da Organização dos Estados Americanos  (OEA).
 
No entanto, essa não é a realidade de grande parte das organizações do campo social. Por isso, além da necessidade de trabalhar é preciso estar comprometido com a causa. “As organizações estão passando por um processo de profissionalização que inclui pensar a estrutura de equipes, plano de carreira, condições de trabalho para ser competitivo com empresas. Até porque é uma atividade que exige profissionais extremamente qualificados”, afirma Camila.
 
Primeiros passos – Há uma leva de jovens universitários que desde as primeiras experiências de trabalho desejam se desenvolver profissionalmente no terceiro setor, desconsiderando opções bastante populares entre a maioria de seus colegas, como atuar em grades multinacionais. Esse é o caso da estudante de Design Gráfico Bruna Menezes, de 21 anos, que hoje ocupa o cargo de Subdiretora de Comunicação no TETO, ONG latino-americana formada por jovens cuja missão é melhorar a qualidade de vida em assentamentos irregulares e favelas a partir da construção de casas de emergência e programas de habilitação social.
 
Localizada em uma zona residencial no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a sede do TETO é o local de trabalho dos diretores e subdiretores e também onde os voluntários se reúnem. O ambiente de trabalho é leve e, como todos ficam em uma mesma sala, a troca de informações e experiências é constante. “O que mais me motiva profissionalmente é saber da mudança que eu posso promover trabalhando na ONG. A partir do meu trabalho, posso ajudar a mudar o mundo”, afirma Bruna. Apesar de ainda estudar, o trabalho que Bruna desenvolve no TETO não é considerado um estágio. Não há vínculo empregatício ou contrato de estágio e ela recebe o que a ONG chama de aporte de aproximadamente R$500, sem nenhum benefício. A organização tem uma política de não divulgar os valores dos salários e aportes de cada colaborador. Ao todo, os doze diretores contratados recebem R$ 20 300 mensais – valor que se fosse dividido igualmente renderia cerca de R$ 1 700 para cada.
 
Tudo por uma causa - Bruna relata o constante aprendizado que tem e acredita em oportunidades de crescimento na organização. No TETO, ela teve a chance de experimentar várias áreas da comunicação, criando o design de logos e camisetas e liderando a equipe de comunicação em parceria com a diretora da área. Bruna sabe que poderia ganhar mais quando compara seu salário com o da maioria dos estudantes de sua turma de Design Gráfico. No entanto, sua prioridade é trabalhar por uma causa em que acredita. “Atuar no terceiro setor é um despertar, não consigo me imaginar trabalhando em um lugar que não cause impacto social”, diz ela.
 
Atuando no setor privado, Fernanda Gama, de 21 anos, está no começo da carreira de designer, mas já sabe que quer se desenvolver na área editorial. Assim como Bruna, ela é estudante do 3° ano de Design Gráfico e estagia em uma editora com foco em revistas customizadas, produzindo a arte das páginas da publicação de uma grande rede de farmácias. A estudante recebe bolsa-auxílio de R$700 e a editora não oferece outros benefícios.
 
Fernanda conta que a possibilidade de crescimento existe e que poderia ser contratada na editora, mas, como ainda tem mais um ano na faculdade, acredita que o mais interessante é ter mais uma experiência de estágio para conhecer mais possibilidades do mercado. “Minha prioridade na carreira é me desenvolver profissionalmente, mas sempre aliando o trabalho com felicidade. É muito ruim trabalhar em lugares que você não gosta”, diz ela. Os objetivos profissionais de Fernanda são continuar na área editorial do design, além de aproveitar o período de estágio para experimentar outras atividades.
 
Comparativamente, o salário das duas estudantes é semelhante e não se distancia muito da bolsa-auxílio recebida pela maioria dos universitários brasileiros que, segundo um estudo realizado em 2011 pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), é de R$723, em média. Diante desse contexto, a maior preocupação de quem aspira construir uma carreira do terceiro setor certamente não deve ser o salário, que não raramente é tão atrativo quanto os valores oferecidos por grandes empresas. Mas, apesar do campo social vivenciar uma fase de intensa estruturação no país, as oportunidades de desenvolvimento e crescimento, principalmente para profissionais seniores, ainda não podem ser equiparadas às encontradas no setor privado.

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