De acordo com a pesquisa Mobility 2020, até março de 2019, somente 25% das empresas consideravam o trabalho remoto como uma alternativa integrada à sua estrutura e cultura. Antes da pandemia, apenas 26% enxergavam o modelo como uma prática estratégica e real. Para 24% dos entrevistados, seria uma iniciativa aceitável para alguns cargos e posições (profissionais de vendas, por exemplo).
Por outro lado, 23% apontaram o formato apenas como uma saída para situações específicas; 14% admitiram se tratar de um assunto presente nas reuniões de RH, mas apenas como projeto e 12% afirmaram: nunca foi considerado.
Desafios do home office
O levantamento também questionou as companhias sobre as principais dificuldades enfrentadas pela atuação a distância. O grande desafio é coordenar e separar atividades domésticas e profissionais no mesmo espaço – foi a resposta de 44%. Por outro lado, 42% colocaram a conexão caseira de Internet como um problema. Para 40%, ruídos e interrupções caseiras são outro problema. Já 38% admitiram dificuldades para controlar seus horários de começar e encerrar o expediente; 7% reclamaram das vídeo-conferências em outros idiomas, enquanto 2% têm dúvidas sobre a vestimenta nessas reuniões virtuais.
O estudo detectou aprendizados interessantes dos profissionais, como:
- Adaptabilidade e paciência (18%);
- Equilíbrio de vida pessoal/profissional (16%);
- Organização e disciplina (16%);
- Gestão do tempo (11%);
- Abertura ao novo e criatividade (10%);
- Empatia (6%);
- Valorização dos relacionamentos (6%);
- Manter foco (6%).
Ou seja: a nova forma de labor e o distanciamento social também estimularam o desenvolvimento de atitudes em relação à adaptação e ao aprofundamento de habilidades específicas de organização e gestão. São fatores bastante positivos gerados por esta situação inusitada.
Surpresas positivas
Graças a esses aprendizados, algumas atividades as quais pareciam muito difíceis a princípio, acabaram se mostrando mais fáceis. Exemplos: comunicação de atividades em equipe (25%), realizar as demandas em casa (19%), gerenciamento dos horários privados e corporativos (18%), não sair da residência (9%), ter atenção (8%), adaptação (8%) e isolamento (5%).
No balanço geral, apesar de ter demandado muita energia, o home office vem gerando sentimentos majoritariamente positivos. Entre os profissionais entrevistados, 58% afirmaram estar “muito confortáveis” com a situação, contra 36% de pessoas “confortáveis” e apenas 6% “desconfortáveis”. Sobre a dificuldade de cooperar com o time virtualmente, 91% classificaram essa atividade de “muito parecida com o normal”, “muito fácil”, ou “fácil”. Apenas 9% responderam “difícil”.
Obstáculos
Apesar desses números, ainda existem arestas para serem aparadas. Perguntados sobre os obstáculos, os profissionais ouvidos afirmaram: socializar (68%), desenvolver confiança (33%), comunicar (28%), dar feedback (22%), manter a meta comum (22%), liderar (15%) e fazer amigos (14%). São desafios importantes ainda não resolvidos para a construção de equipes fortes e com boa performance.
Além disso, os trabalhadores apontam, para as organizações, diversos pontos de melhoria a serem considerados na continuidade da atuação à distância:
- Segurança de dados (79%);
- Comunicação efetiva (74%);
- Maior foco em uma cultura humanizada e colaborativa (70%);
- Manter o engajamento dos funcionários (65%);
- Receber/acolher os novos colaboradores (53%);
- Repensar práticas organizacionais (52%);
- Avaliação de performance (51%);
- Investir em ferramentas /treinamentos para o desenvolvimento humano (49%).
Como se vê, uma das tendências mostradas nesses números é: a incorporação do modelo de trabalho remoto demandará maior foco das instituições no desenvolvimento de competências interpessoais, como comunicação e colaboração.
Sobre a pesquisa
O estudo é realizado anualmente com profissionais de Recursos Humanos, em parceria, pela empresa brasileira Global Line e pela norte-americana Worldwide ERC. Neste ano, o estudo foi realizado entre os meses de agosto e outubro, coletando respostas de 145 companhias multinacionais com atuação no Brasil. As corporações respondentes são predominantemente de grande porte, sendo 69% delas com mais de 10 mil funcionários e 70% com faturamento acima de US$ 1 bilhão por ano. A maioria delas (61%) tem sede fora do Brasil.
“Esta é uma pesquisa amostral e não um censo e, portanto, situações específicas ou pequenos subgrupos podem não estar adequadamente representados. Porém, com base em nossa experiência, entendemos: a amostra é ampla e diversa o suficiente para caracterizar de forma precisa o mercado como um todo”, explica Andrea Fuks, diretora da Global Line.
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