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O filósofo britânico Sir Roger Scruton diz que se você não lê livros, se está preso à TV e à internet, se só vive o tempo atual e desconhece a história da sociedade na qual vive, seu passado será apenas um porão escuro e desconhecido. Ouso ir além e complemento: o presente de alguém assim já é um mundo limitado.

Digo isso porque tenho acompanhado crescer o número de leitores desatentos, que se tornam profissionais com baixo desempenho no mercado de trabalho. Uma pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), responsável pela aplicação de provas para mais de 14 mil empresas em todo país, revelou algo muito sério, que denuncia um dos descasos com a educação brasileira: “Mais de 80% dos candidatos são reprovados em processo de seleção por notas baixas nas provas do idioma”.

Tenho sido repetitivo quando digo que uma boa comunicação, tanto escrita quanto falada, é um fator decisivo e fundamental para o sucesso de qualquer profissional no mercado de trabalho. Inclusive, o domínio do português demonstra cuidado, preparação e deixa o candidato mais atraente aos olhos dos recrutadores quando falamos sobre processo seletivo.

Quando a interlocução de uma empresa sai de forma errônea, tanto interna quanto externa, a imagem dela está em jogo. Hoje, as organizações estão muito preocupadas com esse aspecto. Além disso, não há dúvida de que todo trabalhador deve crescer em sua maneira de se expressar para avançar na carreira e na vida pessoal.

Foi-se o tempo em que a comunicação escrita era algo exclusivo de uma minoria de felizardos com acesso ao conhecimento. Com a possibilidade de alcançar facilmente a informação digital, a comunicação textual está cada vez mais presente no dia a dia das pessoas.

Todavia, o fato de estar habituado ao mundo virtual e ao compartilhamento de postagens nas redes sociais não garante clareza e conhecimento do idioma. Ao contrário disso, as redes expuseram a falta de domínio da linguagem – o que também significa não saber se adaptar ao contexto – e o desleixo com que se emprega a língua materna.

A maneira ágil e, muitas vezes, abreviada de se expressar pode acarretar deslizes e até mesmo vícios de linguagem que afetam a escrita formal. É possível observar os efeitos disso todos os dias.

O tempo que se dedica a refletir sobre uma informação diminuiu e tudo está tão rápido que se torna mais difícil de interpretar corretamente. Não por acaso, além da gramática, a interpretação de texto é um dos principais obstáculos daqueles que possuem dificuldade em língua portuguesa.

Voltando à pesquisa do Nube, que analisou o desempenho de 59.776 candidatos a vagas de estágio, constatou-se que apenas 16,5% apresentaram nível gramatical suficiente para preencher as vagas. Ou seja, de cada dez estudantes, menos de dois reúnem o conhecimento necessário para serem aceitos em uma fase de preparação para o mercado de trabalho.

Sendo assim, não é difícil concluir como será a vida profissional desses brasileiros. E, como se o resultado acima não fosse ruim o bastante, um dado consegue ser ainda mais alarmante: os estudantes de pedagogia estão entre os piores desempenhos. Apenas 6,5% deles tiveram bom desempenho. Estamos diante de um caos: quase 95% dos futuros professores e educadores não têm o conhecimento necessário da língua portuguesa – nem sequer para preencher uma vaga de estágio.

Isso tudo me lembra um curso que ministrei para professores há pouco tempo. A primeira tarefa que solicitei a eles: “Escreva-me uma carta solicitando um emprego”. O que mais ouvi foi: “Como vou dizer isso agora?”.

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