Sem incentivo ao longo da vida para desenvolver a leitura e a escrita, muita gente chega à idade adulta com dificuldades na hora de escrever corretamente, seja um texto ou algo mais simples, como um e-mail. O problema acaba gerando entraves práticos, como a reprovação em processos seletivos, por exemplo, como identificado em levantamento recente do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube).
Mas o que fazer quando não se tem mais um professor disponível que responda às dúvidas sobre Língua Portuguesa? Especialistas procurados pela reportagem de GZH trazem dicas sobre como uma pessoa adulta e já formada no Ensino Médio pode calibrar o seu conhecimento gramatical.
Para Dorotea Kersch, que é professora da Escola da Indústria Criativa e do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada da Unisinos, não tem jeito: para ler e escrever bem, é preciso ler e escrever bastante.
É mais ou menos como outras atividades. Quanto mais você faz, melhor você vai fazê-las. Dirigir, por exemplo: tu podes receber longas explicações sobre como se dirige e não quer dizer que, ao sentar no assento do condutor, tu vais sair dirigindo. É a experiência de leitura e escrita que vai fazer ler e escrever bem — resume a docente.
A especialista alerta, porém, que é fundamental conhecer usos sociais diferentes da leitura e da escrita, para que o indivíduo consiga usar a Língua Portuguesa em diferentes contextos. Ler, hoje, envolve muito mais do que livros – é preciso entender o contexto, que ajudará a pessoa a identificar, por exemplo, quando uma notícia é falsa ou verdadeira.
Lilian Hubner, professora-adjunta do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação em Letras da Escola de Humanidades da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), destaca que o adulto que quer se qualificar no conhecimento na Língua Portuguesa precisa buscar ler textos diversificados, vindos de fontes qualificadas – ler livros, jornais, revistas, debater a compreensão desses textos com colegas e amigos e até mesmo praticar a reescrita desses textos, observando a pontuação e a fluência. Depois, pode-se dar os textos reescritos para alguém que seja capaz de oferecer um feedback sobre a qualidade daquele conteúdo.
— Correr atrás de uma escrita melhor passa pela prática da leitura de gêneros diferentes. Textos informativos, literários, científicos. É fundamental ter uma variedade de leituras, porque, assim, eles estarão se preparando para diferentes tipos de texto que podem ser solicitados no processo seletivo que eles vão fazer — explica Lilian.
A docente ainda sugere, para aqueles que tiverem condição, a busca por cursos e formações que aprimorem a leitura e a escrita. Entidades como Sesc e Senai oferecem atividades gratuitas ou de baixo custo.
Doutor em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, Fernando Becker, que também é professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), defende que a aprendizagem pode acontecer em qualquer idade, ainda que ocorra mais facilmente durante a infância.
— Podemos dizer o óbvio: a gente aprende a falar falando e a gente aprende a escrever escrevendo. Só que a gente melhora o falar e o escrever com a contribuição que vem de quem entender melhor de fala e de escrita — sinaliza o especialista.
Becker reforça que quando se escreve uma mensagem, se escreve para alguém. Por isso, é importante relê-la e se colocar no lugar do outro, para saber se ela fez sentido.