Todos os anos precisamos estar nos atualizando e aprendendo novas metodologias, técnicas e abordagens para complementar aquilo que aprendemos no ensino básico e superior. Em consonância com essa perspectiva, nos últimos anos, observamos o crescimento da modalidade de “aprendizagem continuada” (lifelong learning) que, a cada dia, vem ganhando mais força e, sem dúvida, entra para o hall das atuais tendências educacionais.
De fato, como escrito por Cláudio Sassaki (leia aqui), a aprendizagem continuada não somente está entre as tendências educacionais, mas vem se apresentando cada vez mais forte frente às mudanças exigidas pela era da tecnicidade. Nesse sentido, destaca-se a constante atualização na habilidade prática dos profissionais. Aspecto cada vez mais exigido pelas empresas, mas ainda bastante negligenciado pelo estudo acadêmico. Pois, na maioria das vezes, prioriza o caráter mais teórico de determinada área do conhecimento.
O primeiro aparecimento da aprendizagem continuada pode ser datado por volta dos anos de 1920. Mas foi nos anos de 1970, quando ainda era chamada de “educação continuada” (lifelong education), e, posteriormente, na década de 1990, que o assunto realmente entrou nos debates políticos. O intuito era de substituir a ilusão de uma qualificação única vitalícia por uma preparação contínua ao longo da vida.
O que é, de fato, a aprendizagem continuada?
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), aprendizagem continuada é um termo muito amplo que para uns inclui somente cursos e treinamentos formais, enquanto que para outros significa investir nas capacidades pessoais para promover competências e habilidades. Ou seja, as ferramentas profissionais ao longo de sua vida, mesmo que sejam cursos ou atividades não-formais – como o aprendizado autodidata por meio de livros, filmes, documentários, artigos, palestras e/ou intercâmbios.
A aprendizagem continuada busca manter em desenvolvimento os profissionais do mercado. Pois mesmo uma formação universitária, muitas vezes, datada ou uma graduação puramente técnica não é suficiente para desenvolver plenamente um bom profissional. Por isso, muitos cursos de ensino superior têm buscado mudar os padrões. Adotam metodologias como, por exemplo, o PBL (Problem Based Learning, “aprendizagem baseada em problemas”).
Sob essa perspectiva, vemos nos últimos anos muitas empresas, principalmente do ramo de tecnologia, contratarem pessoas com habilidades práticas mais evidentes – como ter velocidade em um ambiente dinâmico ou saber lidar com diferentes níveis de pressão, para dar apenas alguns exemplos –, e não com capacidades técnicas adquiridas nas carteiras de algum curso de ensino superior.
Além disso, soma-se a esse quadro o fato de que é muito comum hoje observarmos profissionais que não atuam na sua área de formação primeira. Isso atesta o levantamento recente da IDados, mostrando que 40% dos jovens com diploma de ensino superior não atuam em suas áreas. Muitas pesquisas mostram que o padrão de dificuldade de atuação no próprio ramo também é devido à dificuldade de achar um emprego após a conclusão do curso. Tal fato é demonstrado pela Nube (Pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios), pesquisa que mostra que apenas 14,87% dos recém-formados entram no mercado de trabalho em suas áreas de formação.
Nesse cenário, é natural a busca pelo desenvolvimento de competências autodidatas no mercado de trabalho de maneira extracurricular. Por essa razão, tem sido muito importante o uso da aprendizagem continuada como forma de aprimorar as habilidades. Seja as de hard skills (habilidades técnicas) quanto as de soft skills (habilidades comportamentais e de relacionamento).
Dentre as habilidades buscadas pelas empresas, tem decrescido a importância de um currículo de graduação imponente. Entretanto, tem aumentado as exigências pela capacidade de aprender sozinho de forma rápida e pela vontade de aprender coisas novas. Além disso, como saber se integrar ao ecossistema de determinada empresa através da realização de um trabalho colaborativo, de autenticidade, proatividade, curiosidade, inteligência emocional, capacidade de adaptação aos diferentes cenários, entre outras. Paralelamente, as diretrizes da aprendizagem continuada se fundamentam nos quatro pilares da educação do século XXI, como expresso no Relatório Delors (1998):
APRENDER A CONHECER
O primeiro pilar remete à curiosidade. Saber fazer questionamentos e ter senso crítico para aprender as ferramentas de aprendizagem necessárias. E não apenas adquirir um conhecimento previamente estruturado.
APRENDER A FAZER
Esse pilar trata sobre a capacidade de execução dos indivíduos, de saber se adaptar ou enfrentar diversas situações. E não somente ter uma determinada qualificação profissional.
APRENDER A CONVIVER
O terceiro pilar é sobre se relacionar e ter a capacidade de coexistir de forma adequada com outras pessoas em diversas atividades ou ocasiões.
APRENDER A SER
O quarto e último sustenta os outros três. Ele busca o desenvolvimento completo de uma pessoa em todas as esferas, seja a mente, o corpo, a inteligência interpessoal, a empatia etc.
Associando as necessidades das empresas nos dias de hoje com as premissas da aprendizagem continuada, percebemos que muitas das habilidades demandas pelo mercado podem ser encontradas sem necessariamente estarem atreladas a um diploma. Além disso, estudos realizados pela IBM mostram que com o avanço da tecnologia a capacidade de aprender tem se tornado cada vez mais rápida. Ademais, o volume de informações adquiridas, brevemente, pode dobrar em horas. Isso mostra a obsolescência da aquisição de conhecimento nos moldes atuais e a promessa de atenuação do problema a partir da cultura da aprendizagem continuada.
Pesquisas como a conduzida pela Pew Research Center também mostram a opinião pública de que o ensino superior não prepara de maneira completa o profissional para o mercado de trabalho. Isso evidencia a demanda por novas formas de adquirir habilidades e conhecimento e alerta sobre os impactos que o ensino superior tende a sofre mais. Por outro lado, o ensino superior não deve ser encarado como descartável. Mas passível de adaptação a um novo cenário mundial, migrando de um formato conteudista, para um aplicável a realidade do mercado, bem como se aliando a novas formas de educação como a aprendizagem continuada.
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