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Essa pergunta do título é quase uma afirmação e nos inclui porque é real. A questão não é se temos medos, mas quais medos temos e se eles nos atrapalham no dia a dia.

Todos nós temos medos em maior ou menor intensidade, consciente ou inconscientemente. Muitas vezes não nos damos conta, ou não damos importância, podemos achar normal e vamos seguindo no piloto automático.

Uma pesquisa da Nube – Núcleo Brasileiro de Estágios fez essa pergunta para 28.607 participantes de 15 a 29 anos em julho de 2020 e chegou as seguintes respostas:

O principal medo de 26,76% ou 7.655 votos, foi “doenças”. Depois 18,77% (5.370) entrevistados afirmaram ter receio de perder a vida. 16,20% (4.634) afirmaram ter pavor de enfrentar problemas financeiros. Para 15,55% (4.449), a altura é o principal vilão. Outros 14,22% (4.069) não querem enfrentar a solidão. E 8,49% ou 2.430 têm medo de falar em público.

Qual a origem do medo? Essa é uma das perguntas importantes que podemos nos fazer. Até que ponto ele está nos protegendo e onde começa a impedir nossa ação, qualidade de vida, bem-estar e resultados?

Se observamos essa pesquisa da Nube, alguns dos maiores medos provavelmente tem origem na pandemia. Medo de pegar covid, de perder a vida, de ter problemas financeiros e da solidão. Poderia ter aparecido aí também, o medo de perder algum parente próximo.

E se?

O medo e a ansiedade que também é um dos fatores mais citados no momento envolvem nossa mente no futuro, pensamentos de dúvida e muitas vezes negativos. E se não der certo? E se eu pegar covid? E se eu não passar na entrevista? E se eu fracassar? E se não gostarem de mim ...?

Imagina o nível de stress que criamos em nós mesmos quando deixamos estes pensamentos e medos predominarem? Grande parte disso tem origem nas nossas mentes e tem a solução no mesmo lugar.

Me lembro quando fiz uma transição de carreira, saindo de uma estruturada e aparentemente segura carreira na área comercial para me tornar uma palestrante e facilitadora de treinamentos. Passavam muitos “E se” na minha cabeça.

Vinham medos e pensamentos irreais se fossemos analisar de maneira lógica e na maioria das vezes era coisa da minha cabeça e atrapalhava muito a minha performance e a minha qualidade de vida. Era um sofrer por antecedência e antecipar possíveis catástrofes que somente eu enxergava.

“Do que você tem medo? Da minha mente?”

Nas minhas primeiras apresentações em público eu sentia os sintomas físicos do meu medo e da minha mente perdendo o jogo. Boca seca, ansiedade a milhão, coração disparado, dificuldade de ordenar meus pensamentos.
Foram várias vezes com estes sentimentos ... e depois era uma sensação de: ufa” missão cumprida. Ninguém zombou de mim. Parece que deu tudo certo. Não fui vaiada e um monte de outras “bobagens” que minha mente criava.

Ainda assim, mesmo dando certo e criando novas experiências eu levava para as minhas apresentações um peso grande, que ainda estava tomado de medo, uma responsabilidade, carga e preocupação além do necessário.

Toda vez que isso acontecia eu estava com o foco em mim e no que poderia acontecer de errado e não nos participantes. Ou seja, eu não estava completamente presente, deixando fluir o que vinha daquela turma, daquelas pessoas e assim entregando o que era melhor para eles.

Era tudo muito automático ... Um dia, um colega falou para mim: Rê, você está bem? Falei: sim, por quê? Não vou me lembrar das palavras exatas dele aqui, mas me lembro que ele quis dizer isso. Você fez tudo que era esperado, falou tudo que deveria falar, passou o recado, mas você não parece estar se divertindo. Você gosta realmente disso?

Cri cri cri .... Uou! Silêncio total por fora e por dentro rs

Essa foi uma das falas ou feedback como preferirem que me trouxe para um despertar. E aí comecei a notar que meu medo de dar errado, de não ser boa o suficiente estava falando mais alto do que a minha vontade de estar ali e de entregar o melhor conectado com meu propósito.

Minha cabeça estava jogando contra mim e com isso cada apresentação era um grande stress e não um prazer.

Você consegue notar algum medo que te leva para um lugar parecido com este em que eu me encontrava?

Tem um filme curto do ator Will Smith no you tube em que ele relata a experiência dele ao saltar de paraquedas. E resumindo ele conta que sofreu muito depois que aceitou o convite de um amigo, que mal dormiu, ficou ansioso pensando no que de pior poderia acontecer.

A mente criando e jogando contra. E depois que ele saltou foi uma das experiências mais incríveis da vida dele. E que fez ele pensar ... por que tanto sofrimento antes?

Quando a gente não sabe ou não conhece algo, a nossa mente busca preencher e na maioria das vezes o “viés” natural é negativo. Deixa eu te contar uma coisa? Ih! Lá vem. Preciso falar com você. Vixi! Bomba! Eu tenho um feedback para te dar. Pelo amor de Deus! Socorrrrrrro!

E se?

Esses medos podem nos impedir de sair da nossa zona de conforto e buscar coisas novas entrando assim em constante zona de aprendizagem. É que aqui eu já conheço, tiro de letra.

Sim é confortável e é aparentemente seguro e sempre vai dar medo de fazer qualquer coisa nova, diferente, que não temos conhecimento ou controle dos resultados. Mas é exatamente aí que temos oportunidade de crescer como pessoas e profissionais.

O medo que nos impede de fazer algo ou que prejudica nossa qualidade de vida e nossa performance não é bom. Precisa ser observado e cuidado.

Todos nós queremos atender nossas necessidades físicas e psicológicas. Segundo Richard Barrett, escritor e especialista em cultura organizacional nós temos 7 níveis de consciência. E em três destes níveis podem estar presentes medos.

Alguns destes medos eu vejo como comum a maioria em maior ou menos intensidade. Medo em nível de sobrevivência que é o medo de não ter o suficiente e pode nos levar a comportamentos de cautela e controle. Medo em nível de relacionamento que é o medo de não ser amado o suficiente e pode levar a ciúmes e culpa. E o Medo em nível de autoestima que é o medo de não ser bom o suficiente e pode levar a necessidade de poder, autoridade e status.

Quando eu volto lá atrás no início da minha transição de carreira eu noto que tinha medo de não ser boa o suficiente e de não pertencer ao grupo que estava ali naquele momento.

O que me ajudou e talvez seja útil para vocês como dicas finais foi o autoconhecimento. Perceber e mais do que isso reconhecer meus medos e o quanto estava me atrapalhando.

E a partir daí fazer alguns exercícios para estado de presença, usando a respiração principalmente para deixar a mente mais tempo no presente e menos nos picos de ansiedade e stress do futuro que eu não podia e não posso controlar.

Além disso, criei algumas âncoras positivas para me fortalecerem e me darem segurança. Música e gesto além da respiração para me deixar mais centrada e preparada.

E com o tempo e mais essas práticas pude complementar a técnica com a diversão, leveza, aproveitar o que vem do grupo e tudo de melhor que facilitar treinamentos propicia.

"Coragem não é não ter medo, mas ir adiante apesar dele".

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