Na contramão da graduação que perdeu alunos durante a pandemia da Covid-19, cursos de especialização ganharam estudantes. Incentivados pela maior facilidade para estudar de casa e com o home office que proporcionou uma economia de tempo, sem o deslocamento diário do trabalho para a residência, profissionais da região aproveitaram os últimos doze meses para dar um 'upgrade' na carreira.
Foi o caso do professor de enfermagem Odivaldo Silva Manhozo, 42 anos, que resolveu se especializar. "Fiquei com mais tempo livre na pandemia. Isso acabou facilitando para procurar uma especialização. E não me arrependo, pois conhecimento nunca é demais e faz muita diferença na vida da gente", declarou.
Já Tatiane Garcia Prudêncio de Souza, de 31 anos, resolveu emendar o último ano do curso de nutrição com uma pós na mesma área. "Como tenho uma graduação na área de administração, resolvi começar uma pós nesse último ano de nutrição. Com as aulas remotas impostas pela pandemia, consigo conciliar a rotina de estudos", contou.
Segundo o diretor de pós-graduação da Estácio, Eduardo Senise Maroun, somente no ano passado, houve um crescimento de 20% nas matrículas de pós-graduação da instituição, comparado ao ano anterior. "Para ter uma ideia, começamos 2020 com 103 cursos de pós-graduação e terminamos com 260 cursos. Tivemos um crescimento exponencial de matrículas em todas as áreas, mas a procura por especializações nas áreas de saúde, educação e tecnologia lideraram."
Além de um incremento no currículo profissional, grande parte dos estudantes procuram por uma pós-graduação pelo networking com professores que atuam no mercado de trabalho. "Muitos alunos desempregados relatam que estão fazendo de tudo para manter a pós-graduação, por esse contato com o professor. Esse espaço é muito importante para essa recolocação no mercado", disse a coordenadora geral dos cursos de pós-graduação da Unirp, Renata Calixto de Toledo.
Mudanças na metodologia de aulas dos cursos de pós-graduação foi outro fator que também incentivou a procura de mais pessoas pela especialização. Se antes predominava o ensino a distância com aulas gravadas, agora, faculdades cada vez mais estão promovendo interação nos modelos de ensino entre professores e alunos. "Os cursos de especialização estão mais flexíveis. No passado, os cursos eram na sua maioria com aulas gravadas e o material para o aluno ver. As facilidades tecnológicas permitiram a hibridização e isso fez a procura por se especializar aumentar", afirmou o diretor de relações nacionais da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Carlos Fernando Araújo Júnior.
Adriano Gonçalves Araújo, de 40 anos, é dos estudantes que depois de anos optando pelo presencial para estudar está fazendo uma pósgraduação a distância. "É o meu primeiro curso a distância. Procurei a pós por uma melhor colocação no mercado, me despertou interesse o trabalho de perito e como precisa de uma especialização na área aproveitei para fazer na pandemia. Confesso que no começo foi difícil, mas depois fui acostumando."
E um estudo do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) evidenciou a importância da especialização em tempos de pandemia. Dados mostram que até dois anos atrás, 27,02% dos brasileiros conseguiram entrar nas suas respectivas áreas de formação em menos de três meses após a graduação, hoje, somente 14,87% atingiram esse feito. "A pós-graduação é um diferencial no currículo do aluno. Se você tem um concorrente na vaga de emprego com pós-graduação concorrendo com você, e o nível de vocês dois é similar. A pós será o diferencial do seu concorrente, principalmente, após a pandemia", afirmou Renata
Graduação
A hibridização do ensino superior na graduação também é uma tendência que deve ser acelerada no pós-pandemia, segundo especialistas em educação ouvidos pelo Diário. Dados do último Censo da Educação Superior 2020, equivalente ao número de alunos matriculados em 2019, em Rio Preto, aponta que enquanto houve aumento de matrículas na educação a distância nos últimos três anos, houve queda de matrículas em cursos de educação presencial.
"Eu acho que a aceleração que houve na pandemia da educação a distância quebrou paradigmas da comunidade acadêmica como um todo. Os professores e alunos puderam perceber que a tecnologia é uma aliada que auxilia no aprendizado. E isso aconteceria mais cedo ou mais tarde", completou o diretor executivo da Abmes, Sólon Caldas.
Tipos de Pós-Graduação no Brasil
1) Lato sensu
São as pós-graduações voltadas para algum tipo de especialização; priorizam a prática ao conteúdo e dão a seu concluinte um certificado e não um diploma. Entre as opções de pós graduação latu sensu:
- Especialização: é um aprofundamento em uma determinada área na qual o profissional quer se desenvolver; pode ajudar, por exemplo, um profissional que começa a exercer uma função nova. Esses cursos devem ter no mínimo 360 horas e não exigem, desde 2018, trabalho de conclusão de curso (mas as instituições podem exigi-lo)
- MBA (Master in Business Administration): são especializações na área de administração, nas quais o conteúdo é mais genérico. Os programas são mais procurados por profissionais da área de negócios, mas também por trabalhadores de outras áreas quando assumem cargos de gestão, como médicos ou engenheiros que passam a comandar uma equipe. A duração mínima dos cursos de pós-graduação MBA é de 360 horas.
2) Stricto sensu
Pós-graduações em sentido limitado e que geralmente são procuradas por quem quer carreira acadêmica. Nesse caso, o concluinte não recebe um certificado, mas sim um diploma. Entre as opções de pós-graduação stricto sensu estão:
- Mestrado acadêmico: com duração de dois anos; ao fim do percurso, o estudante deve apresentar uma dissertação. Se aprovado, ganha o título de mestre. A opção é geralmente procurada por quem quer ir para a academia ou para a área de pesquisa.
- Mestrado profissional: é uma modalidade de pós-graduação de dois anos, semelhante ao mestrado acadêmico, mas que busca dialogar mais com o mercado de trabalho, mesclando o aprofundamento teórico com a aplicação prática dos conceitos.
- Doutorado: é uma pesquisa mais aprofundada que o mestrado em determinado tema; dura entre quatro e cinco anos e também é majoritariamente procurado por membros da comunidade acadêmica que querem desenvolver conhecimento. Quem o conclui, vira doutor.