“Professora, mandei mais de 100 currículos e ninguém me chamou! Não sei mais o que fazer. Estou pensando em desistir da área...”
Quantas e quantas vezes estudantes me procuram com essa lamentação e quantas e quantas vezes, ao analisar seus currículos, percebo erros grosseiros que certamente estão causando uma reação negativa por parte do empregador.
A verdade é que, por mais que nosso mercado seja competitivo (e ele é) e por maior que seja a crise na nossa economia, que certamente reduz o número de oportunidades, são poucos os candidatos verdadeiramente preparados para ocupar uma vaga. E quem já passou pelo papel de empregador sabe bem do que estou falando.
2017 está aí e você com certeza quer começá-lo com mais chances de conseguir seu sonhado estágio. Por isso, resolvi transformar essa coluna em um grande manual com dicas que costumo passar aos meus alunos e que vêm dando muito certo. Essas dicas já foram publicadas no Formando Focas (um blog que eu tenho, especialmente voltado a estudantes de jornalismo). Tome nota e boa sorte.
Cuidado com erros gramaticais
Aí você recebe um currículo por e-mail e no campo “objetivo” está escrito: “atuar em acessoria de imprensa”, com “c” no lugar de “ss”. Ou o famoso “segue anexo meu currículo e portfólio” em vez de “seguem anexos meu currículo e portfólio”. É claro que boa parte dos empregadores (incluindo eu) deletaria logo de cara um e-mail deste.
A falta de respeito à Língua Portuguesa é hoje uma das maiores barreiras para quem deseja conseguir uma vaga de estágio. Uma pesquisa feita pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), divulgada pelo portal G1 em 20 de outubro deste ano, mostrou que 4 em cada 10 candidatos perdem as vagas por causa de erros de português. O estudo também indicou que a falta de respeito à língua reprova 37,9% dos candidatos a estágio no nosso país. Portanto, antes de escrever o seu e-mail e enviar o currículo, FAÇA UMA BOA REVISÃO!
E se você tem muita dificuldade com o português, tenha como meta profissional vencer este empecilho. Procure aulas particulares ou cursos de extensão que possam melhorar seu desempenho. No jornalismo ter o domínio da língua é essencial.
Tenha um bom portfólio
O mercado jornalístico é cruel e exige experiência mesmo de quem está começando no curso. Poucos são os empregadores que arriscam pegar um estudante que nunca escreveu nada, nem que seja um texto acadêmico. Por isso, é imprescindível ter bons textos assinados e, se possível, publicados; trabalhos que mostrem sua capacidade jornalística.
Como conseguir textos assinados e publicados?
Abrace todos os exercícios de reportagem proposto por seus professores, como se fossem tarefas profissionais e não meramente acadêmicas. Ou seja, faça o exercício não para ter uma nota, mas pensando em publicá-lo, nem que seja no seu blog pessoal (sim, é válido ter um blog com seus melhores trabalhos na área. Mas tenha um blog que traga bastante reportagem. Leia também a minha coluna “Check list do blog jornalístico”, com dicas para ter um blog jornalístico de sucesso).
Toda faculdade realiza palestras com profissionais do mercado e conta com veículos laboratoriais, como jornais online, revistas e agência experimental de comunicação. Ofereça-se para cobrir os eventos que acontecem na sua universidade e para escrever para os veículos-laboratório dela. Faça boas reportagens que possam ser citadas e mostradas ao empregador em uma possível entrevista.
Existem também portais de grande credibilidade e audiência que oferecem a chance de o estudante de jornalismo publicar seu texto. O portal IMPRENSA mesmo conta com o projeto “FOCA NA IMPRENSA”, um concurso em que o aluno pode se inscrever enviando um texto sobre um tema estipulado pelo portal. Se o seu texto for o mais votado, ele é publicado.
O portal Comunique-se também conta com o projeto “Correspondente Universitário”. O projeto recebe coberturas feitas por estudantes de jornalismo sobre fatos relevantes ocorridos na área de comunicação, universo de cobertura do portal.
Jogue-se também nos projetos integrados da sua faculdade que exigem grandes reportagens e entrevistas de fôlego. Faça o seu melhor, pense sempre naquela oportunidade como uma maneira de dar visibilidade ao seu currículo.
Ofereça-se para escrever nos blogs de seus professores e envie matérias que ficaram legais para veículos jornalísticos, cuja linha editorial case bem com o texto que você fez.
Outra dica, em especial para quem deseja trabalhar em revista, é estudar estrategicamente a linha editorial e o público-alvo de uma publicação que você gosta e, então, pensar numa reportagem bem legal sobre um tema ainda não trabalhado por esta publicação, mas que tem tudo a ver com ela e com seus leitores. Faça essa matéria, construindo um texto que combine bem com o jeitão da revista, acompanhado de interessantes imagens, arte e infográficos. Depois que tudo estiver pronto, ofereça a matéria finalizada para a revista. Veja se a publicação tem interesse em comprar o seu texto. O mesmo pode ser feito com uma entrevista pingue-pongue (formato pergunta-resposta). Entreviste alguém que é relevante para o público daquela publicação e venda o texto pronto, com título, subtítulo, olhos, fotos, enfim.
Hoje, com as redações cada vez menores, as publicações sentem falta de “braços” para trabalhar mais matérias, em especial reportagens interessantes, que explorem temas e abordagens ainda não trabalhados. Pode ser a sua chance de publicar um texto na revista dos seus sonhos.
Faça um currículo atrativo e estratégico
Existem alguns elementos básicos que todo currículo deve ter, nesta ordem, preferencialmente: dados pessoais (nome completo, idade, estado civil, local de nascimento, endereço completo, telefones, e-mail, perfil nas mídias sociais); objetivo; perfil/ou qualificação (uma síntese das suas experiências mais significativas); formação acadêmica (nome do curso, instituição, semestre em que você está e previsão do ano de conclusão da graduação); experiência profissional (da mais recente para a mais antiga, sempre com nome da empresa, cargo, atividades exercidas e mês e ano de entrada e saída); cursos e atividades extracurriculares; idiomas e informática.
Não há como fugir desses itens, mas é preciso saber se vender. Se você nunca fez estágio na área, por exemplo, e nunca trabalhou, pode criar um campo no lugar de Experiência Profissional chamado “Primeiras experiências na área jornalística”. Nesse campo você pode colocar os primeiros textos que você conseguiu publicar, mesmo que sejam textos divulgados nos veículos-laboratório da sua faculdade ou no seu blog pessoal. Pode também incluir nele coberturas de eventos que você fez por conta própria, daí a importância de, como já disse, você ser proativo.
Crie também um campo “Participação em eventos da área”, com as palestras que você assistiu sobre a nossa profissão. Você pode não ter experiência nenhuma, mas o empregador pensará: “Puxa! Vale a pena dar uma primeira chance para esse cara, pois ele parece ter muito tesão pelo jornalismo. Veja só quantos textos ele já produziu e quantos eventos da área ele já participou”.
Participe também de cursos gratuitos sobre jornalismo, que costumam selecionar estudantes. Um que é bastante legal e diversos alunos meus já fizeram é o “Projeto Repórter do Futuro“, promovido pela Oboré, com o apoio de diversas entidades. Nesses cursos, além de produzir muitas matérias interessantes, você entrará em contato com fontes maravilhosas e impulsionará seu networking.
É muito importante também não cometer erros básicos no currículo, como colocar na formação acadêmica até a escolinha em que você cursou o jardim (Escola Pinguinho de gente…).Tome cuidado também com o e-mail que você usa para enviar o currículo. Emails como gatinha21@gmail.com ou bombandonanight@gmail.com são de esturricar qualquer filme!
Assim como aqueles alunos sem noção que colam no CV fotos mostrando seus músculos, fazendo careta ou do tipo selfie. Aliás, só coloque foto no currículo se a vaga pedir.
Tome cuidado também com a formatação do CV. É preciso haver uma formatação padrão mínima (com negrito nos títulos de cada parte do currículo, por exemplo), mas sem muito frufru. Nada de colocar um título em vermelho, outro em verde, outro em azul…
Sobre o item “Idiomas” do seu currículo, tente preenchê-lo – pelo menos com um nível intermediário de inglês – o quanto antes. Inglês é obrigatório para todos que cursam jornalismo, não tem jeito! O mercado exige e, mesmo em empresas pequenas, uma hora ou outra você necessitará dele. Muitas oportunidades de estágio são perdidas hoje por falta de fluência na língua inglesa. As bolsas de estágio com valor mais alto costumam pedir inglês avançado. Se puder, faça um curso de inglês em uma escola legal. Caso esteja sem orçamento para isso, atente para os diversos cursos online gratuitos. Em uma rápida busca no nosso amigo Google você encontrará váááários! Não tem desculpa para não estudar esse idioma.
Os mesmos conselhos valem para o espanhol, um idioma que também é exigido por parcela significativa dos empregadores.
Toda experiência é válida
Ah, você só quer trabalhar com jornalismo cultural? Ou apenas com jornalismo esportivo? Acha esse papo de assessoria de imprensa um saco. Continue assim, querendo escolher muito, e acabará sendo escolhido, ou seja, terminará trabalhando fora da área por falta de experiência no currículo. Nada de querer escolher vagas no início da carreira. Poucos começam no jornalismo já se sentando na janelinha. Esse é um erro recorrente cometido por estudantes. Qualquer experiência é válida e servirá de ponte para te levar a experiências mais legais.
Onde encontrar as vagas?
O primeiro e óbvio lugar para se procurar vagas de estágio é nos sites de consultorias de Recursos Humanos. Existem as pagas, como a Catho, e as gratuitas, como o CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), o Nube (Núcleo Brasileiro de Estágios), o Vagas e os tradicionais anúncios em jornal.
Outra alternativa, muitas vezes com vagas mais atrativas, focadas em jornalismo e comunicação, está nos perfis que divulgam oportunidades nas mídias sociais. Há diversos grupos/páginas no Facebook e perfis no Twitter voltados à postagem de oportunidades de emprego e estágio em jornalismo e comunicação. No Facebook, temos o Vagas para Jornalistas, Vagas para Profissionais de Comunicação, entre outras. No Twitter, @vagasjornalismo.
O portal Comunique-se também oferece gratuitamente (apenas exigindo cadastro no site), na seção Empregos, vagas para jornalistas e estagiários.
Também é importante abrir a cabeça na hora de procurar vagas. A área de atuação do jornalismo é bastante ampla, passando por redação (em grande e pequena imprensa), assessoria de imprensa, comunicação organizacional, comunicação pública e comunicação no terceiro setor (leia também o post Conheça as diversas opções de trabalho no mercado jornalístico, que escrevi para o Formando Focas).
Entre nos sites de grandes escritórios de assessoria de imprensa e agências de comunicação. Esses sites geralmente possuem uma seção chamada “Trabalhe Conosco” ou “Envie seu currículo”, que pode ser uma alternativa para um dia você ser chamado para uma entrevista. Tá, eu sei que a maioria dessas seções é para inglês ver, mas os lugares sérios realmente costumam olhar esses cadastros, em especial quando, de repente, perdem aquele estagiário que tanto gostavam para uma outra empresa e precisam de alguém pra ontem.
De tempos em tempos, faça a ronda nos sites dessas agências de comunicação, preenchendo seus cadastros, mantenha-os sempre atualizados. Como descobrir os sites dessas assessorias de empresa e consultorias em comunicação? Visite o portal da Aberje (Associação Brasileira de Comunicação empresarial) e da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação) e clique na seção que traz os sites das empresas que são associadas a essas entidades (normalmente essa seção aparece com o nome “Associadas”).
Vale também entrar no site de grandes empresas, que igualmente costumam contar com a seção “Trabalhe Conosco” ou “Envie seu currículo”, e cadastrar o seu CV.
Proatividade é alma do negócio! Não espere a empresa oferecer a vaga, se ofereça! Se não houver a seção “Trabalhe Conosco”, ligue na agência de comunicação ou assessoria de imprensa e pergunte para quem você deve enviar o currículo ou, numa tarefa mais ousada (como todo jornalista deve ser), descubra o nome dos sócios e diretores da empresa no site e depois encontre o perfil deles no Facebook, oferecendo-se, por inbox, para estagiar na agência deles. Sei que essa ação é polêmica, mas profissionais da área de comunicação normalmente gostam de candidatos ousados e inovadores.
Outra dica é olhar o expediente dos veículos jornalísticos (em especial os de pequena imprensa, como jornal e revista de bairro, que costumam abrir mais oportunidades para iniciantes). Veja quem é o jornalista responsável pela publicação, descubra seu e-mail, perfil no Face ou o e-mail da redação e envie o seu currículo direcionado à pessoa.
Ofereça-se também para trabalhar naquela rádio comunitária do seu bairro ou para fazer conteúdos para jornais, movimentos sociais, associações e outros que não contam com jornalistas.
Arrisque-se, arrisque-se! Você não tem nada a perder.
Seja perseverante e ágil
Várias vezes por dia é preciso fazer a via sacra nos perfis nas mídias sociais que oferecem vagas e em sites que trazem oportunidades.
Quando aparecer a vaga, envie seu currículo IMEDIATAMENTE!
Outro erro que vejo em estudantes é que eles demoram muito para enviar o currículo. Você avisa o aluno que tem uma vaga no site tal e ele diz: “Tá bom, prof, amanhã eu mando”. Pois saiba você que quando o empregador anuncia uma vaga, uma hora depois ele já recebeu no mínimo uns 30 currículos, ou seja, a probabilidade de ler um currículo enviado no dia seguinte, quando já terá recebido centenas de CVs, é muito baixa, pra não dizer que é zero. Então, corra, seja um dos primeiros a mandar.
Converse com seus professores
Finalmente, recomendo que você exponha aos seus mestres, em especial para aqueles que trabalharam muito tempo na área ou continuam trabalhando, o seu desejo de estagiar. Nunca se esqueça de que seus professores são seus primeiros empregadores. Certamente, eles têm contatos valiosíssimos na área jornalística e, se você for um bom aluno (então, antes de mais nada, SEJA VERDADEIRAMENTE UM BOM ALUNO, pois nenhum professor em sã consciência vai indicar para uma vaga um aluno que falta, é preguiçoso, desinteressado ou escreve mal, pois isso comprometerá o nome dele), seu professor vai lembrar de você, quando souber de alguma vaga ou mesmo vai falar de você para os amigos dele.