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Em meio à crise, muitos estão abrindo mão dos estudos para trabalhar, porém o programa de aprendizado pode ser a solução

O mercado de trabalho brasileiro vivencia atualmente um dos piores momentos das últimas décadas e os efeitos dessa retração refletem diretamente em outros setores do país. No último ano houve um aumento significativo no número de jovens em busca de uma colocação profissional o que, consequentemente, contribuiu para agravar o quadro de evasão escolar e elevar os índices de desistência na graduação. Diante disso, os programas de estágio têm se mostrado a melhor alternativa para a solução desse impasse, pois, o Artigo 1º da Lei do Estágio garante que só pode estagiar quem estiver "frequentando e regularmente matriculado em uma instituição de ensino". Essa é uma condição fundamental e estratégica para que o jovem possa ingressar no mercado, complementar a renda e continuar estudando.

 

Cenário econômico

De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (PNAD Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atualmente, 11,2% dos brasileiros estão desempregados. Para os jovens esse cenário é ainda pior, pois, a faixa etária de 14 a 24 anos é a mais afetada. Estima-se que 1 em cada 4 trabalhadores com menos de 25 anos foi diretamente impactado pela crise. São mais de 4,5 milhões de desempregados segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED), do Ministério do trabalho.

O aumento na procura de vagas pelos mais jovens acompanha, sobretudo, a necessidade de compor a renda familiar devido à redução no número de postos com carteira assinada e a queda na remuneração do trabalhador, que ocasionou a perda do emprego de muitos chefes de família – mais de 530 mil vagas celetistas com salários mais altos foram descartadas no primeiro semestre do ano segundo registo do CAGED – assim, os demais integrantes, que antes não precisavam trabalhar, buscam uma oportunidade para ajudar a complementar a renda e recuperar a estabilidade financeira do lar.

 

Evasão escolar

O registro do crescente número de jovens em busca de trabalho coincide com uma queda nas matrículas do ensino médio, que em 2015 diminuiu 2,7% em relação ao período anterior segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Já o número de alunos matriculados no ensino superior aumentou 2,5% comparado a 2014 e ultrapassou 8 milhões – a modalidade a distância, geralmente com mensalidades mais baratas, continua em ascensão entre os estudantes, principalmente dos cursos de licenciatura, e contribui com essa taxa, pois já representa uma participação de 17,4% do total de matrículas – porém, o ritmo de crescimento caiu.

O Censo da Educação Superior, relativo ao ano de 2015, divulgado recentemente pelo Inep considerou fatores como conclusão, permanência e desistência para traçar um perfil da trajetória dos estudantes de graduação e revelou uma elevação na taxa de desistência entre 2010 e 2014, quando o número de alunos que abandonaram o curso chegou a 49%. O levantamento aponta ainda que menos da metade das novas vagas oferecidas em instituições públicas e privadas de ensino superior foram preenchidas.

 

Estágio pode aliar estudos e trabalho

No cenário atual o desemprego está mais acentuado justamente entre a faixa etária que se encontra em um período no qual adquirir experiência e projetar a carreira são fatores fundamentais para o desenvolvimento profissional. Porem ao invés de investir em uma especialização, os dados mostram que os jovens estão em busca de uma vaga de emprego – reflexo do cenário econômico conturbado – no entanto, inexperientes e com baixa qualificação, a grande maioria possui poucas chances de inclusão no mercado de trabalho.

Diante disso, o estágio tem se mostrado o melhor caminho, tanto para quem quer prosseguir com os estudos, quanto para quem precisa de uma renda extra, pois, representa uma oportunidade real de aprendizagem e crescimento, além de possibilitar o ingresso em grandes empresas, que ainda oferecem chances de efetivação. De acordo com dados da Associação Brasileira de Estágios (Abres), entre os estagiários que são contratados nos últimos semestres do curso de 40% a 60% são efetivados pelas empresas.

Na contramão da crise, os programas de estágios têm apresentado números positivos, principalmente nessa época do ano. Segundo Tiago Mavichian, diretor da Companhia de Estágios, consultoria especializada em recrutamento e seleção de estagiários, apesar da recessão econômica e o recuo do mercado de trabalho a evolução das vagas oferecidas nos programas de estágio é contínua: “Um levantamento da Companhia, considerando os três últimos anos, revelou uma média de 7% no aumento da oferta de vagas de estágio nessa época do ano. Por enquanto estamos estáveis em relação ao número do ano passado, com cerca de 1.800 vagas abertas atualmente no país, mas o segundo semestre ainda está em andamento”.

 

Retração da massa salarial é pior para menos qualificados

Segundo a análise desagregada do mercado de trabalho feita pelo Grupo de Conjuntura do Ipea, por meio de microdados da PNAD Contínua os setores que não exigem maior nível de qualificação apresentaram a pior taxa de redução do salário real. A queda dos rendimentos entre quem ganha exatamente o salário mínimo não apresentou perda real, já para os que recebem menos que o salário mínimo a diminuição foi mais acentuada. Com a soma da queda na ocupação no segundo trimestre do ano, a massa salarial voltou ao mesmo patamar que se encontrava há três anos: 175 bilhões de reais.

 

Qualificação é fundamental

Investir em cursos técnicos, profissionalizantes e de especialização é essencial para conseguir uma boa colocação, principalmente em tempos de crise. Os jovens que conseguirem levar adiante os estudos nesse período em que o mercado de trabalho está mais encolhido certamente estarão em vantagem quando o cenário econômico do país se recuperar, pois, quem estiver com oa currículo melhor qualificado terá mais chances de conquistar uma boa colocação e ser bem remunerado. Segundo o Mavichian a concorrência acirrada exige um investimento melhor na preparação: “Para se destacar hoje em dia é fundamental complementar a formação básica, pois, as empresas buscam um currículo bem qualificado e as vagas em que oferecem mais benefícios, bolsa auxílio acima da média e maiores chances de efetivação também são as mais exigentes”.

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