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Ao ir a uma entrevista de emprego, é importante esconder piercings e tatuagens. Afinal, recrutadores não costumam simpatizar com quem realiza esses procedimentos, certo? Não necessariamente.

Mas, apesar de o artigo 3º da Constituição brasileira, determinar como objetivos fundamentais da República, "promover o bem de todos, sem preconceito de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação", pessoas com visual menos convencional podem, sim, sofrer por isso.

A esteticista Mariana Alves, que tem os dois braços e costas cobertos com desenhos e piercing no nariz, afirma nunca ter sofrido preconceito, mas que na área da saúde é preciso tomar alguns cuidados adicionais. "Nunca trabalho com a joia e não faço procedimento algum, médico ou estético, se percebo profissionais que usam piercings na hora do trabalho ou até mesmo brincos, pulseiras e anéis".

Para aprofundar o assunto, o Núcleo Brasileiro de Estágios - Nube, investigou se os futuros gestores do país, com idade entre 15 e 26 anos, selecionariam para suas empresas, profissionais com desenhos e frases estampadas no corpo. A pergunta feita, "Você contrataria alguém com tatuagem?", revelou um resultado surpreendente e ilustra a visão dos jovens a respeito.

Com 14.225 estudantes consultados, em todos os estados da federação, a pesquisa apontou uma aceitação ampla. Para a maioria, a contratação é tida como natural. Mas, desse total:

44,75% contratariam sem pestanejar

25,46% disseram que isso varia de acordo com a função onde iria atuar

14,63% aprovam a escolha de quem possui sinais no corpo

12,35% contratariam se não for muito visível, mas orientariam para não deixar aparente

2,81% se recusariam a contratar os profissionais em questão

A  coordenadora de treinamentos do Nube, Eva Buscoff, analisa: "o mercado ainda impõe algumas restrições em relação à aprovação desses em processos seletivos. Embora exista uma tendência a total dissolução deste tipo de entrave nas contratações, alguns gestores, de modo velado ou não, preferem recusar esse perfil".

Ela completa que "o papel do RH é também o de assegurar dignidade aos candidatos a quaisquer vagas, seja emprego, aprendizagem ou estágio. Todo e qualquer tipo de restrição infundada, com origem em preconceitos, rotulações e julgamentos é sinal claro de desrespeito para com o próximo. Nesse sentido, não podemos concordar em eliminar um bom candidato utilizando, como critério de corte, sua tatuagem".

O conflito entre o desejo de contar com funcionários de "boa aparência" e o livre arbítrio do indivíduo muitas vezes acaba indo parar na Justiça. Já há registros, por exemplo, de condenações do Tribunal Superior do Trabalho (TST), a indenizações na casa de R$ 30 mil, por danos morais a funcionários tatuados e por essa razão rejeitados. "Os gestores com tal restrição encontram-se prestes a verem seus filhos ou netos, muitas vezes com ilustrações no corpo, buscarem oportunidades na carreira. Logo, acredito na redução quase total deste tipo de preconceito no momento da contratação, pelo próprio bom senso de cada selecionador", conclui a especialista do Nube.

A content management Andressa Schneider, da agência de empregos 99 Jobs, em entrevista ao Catraca Livre, afirmou que apesar da resistência por parte de algumas empresas, a popularização das tatuagens trouxe um novo olhar para o mercado de trabalho. "A gente nunca recebeu um "veto" de algum contratante quanto à tatuagem - até porque isso seria discriminação. Mas sabemos que existe, principalmente em empresas com o perfil mais conservador".

 

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