Muito provavelmente, você conhece alguém que já desistiu de um curso na universidade para começar outro em uma área completamente diferente. Talvez, essa situação possa até mesmo ter acontecido com você.
Por mais complexo que seja passar pelos processos seletivos de vestibulares, a desistência pós-entrada em uma graduação de ensino superior ou o troca-troca de cursos, são situações mais comuns do que se imagina no âmbito acadêmico.
De acordo com dados de 2006 do MEC, cerca de 21,7% dos alunos evadiram do sistema de educação superior por desistência, abandono ou trancamento de matrícula. Os motivos podem ser diversos, mas a falta de identificação com o curso escolhido é uma das justificativas mais apontadas pela desistência da área selecionada.
Para a coordenadora de seleção do Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube), a psicóloga Natália Caroline, uma das razões pela escolha errada são as pressões pós-conclusão do Ensino Médio. “O jovem é pressionado no último ano do Ensino Médio tanto pelos pais quanto pelas escolas para decidirem sua futura profissão e já iniciar uma faculdade no ano seguinte. Nem todos possuem maturidade para tal decisão e, por isso, o número de candidatos com faculdades trancadas aumentou bastante nos últimos anos. Nesses casos, avaliamos os motivos pela escolha do curso atual e verificamos se esta opção também foi feita por imaturidade”.
O mercado inchado em algumas áreas, o crescimento de oportunidades em setores mais novos e a média de salário que um profissional recebe são fatores que influenciam na escolha da profissão de muitos jovens. Mas, especialistas alertam que decidir cursos somente por esses motivos também é um fator que leva estudantes a desistirem da graduação antes de terminarem.
Natália Caroline explica que aqueles que visam o retorno financeiro acima da satisfação profissional, por exemplo, podem se arrepender no decorrer do curso. “Optar pela satisfação profissional é o melhor caminho, pois as pessoas que trabalham em ambientes que consideram desagradáveis têm resultados insatisfatórios. A psicóloga afirma que, nesse momento, “uma das dicas é procurar um estágio para conhecer a profissão na prática e ver se realmente traz satisfação profissional”.
Já o especialista Ruy Leal, que conta com 30 anos de experiência na capacitação de jovens para o ingresso no mercado de trabalho, comenta que as consequências para aqueles que só visam o dinheiro podem ser as piores possíveis. “Temos um verdadeiro ‘efeito tostines’: não gosta do que faz e por isso é um mal profissional e assim recebe mal”.
Ruy Leal afirma que “o jovem deve descobrir para onde quer ir (qual é a sua praia) e a partir daí escolher o que lhe dá paixão em realizar. Dessa maneira, tudo em sua profissão fará com enorme gosto, assim fará muito bem e será muito bem pago”.
Nunca é tarde para recomeçar
Enos Lins Ayres começou fazendo graduação em Educação Física, depois Fisioterapia, mas o curso que concluiu e se formou foi Redes de Computadores. Para ele, nunca é tarde para recomeçar um novo curso. A consequência disso, é que agora se sente feliz na área que finalmente escolheu. Ele conta que o mercado em expansão e o gosto pela computação foram determinantes para sua escolha.
Para Luiz Gonzaga Bertelli, presidente Executivo do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), “Quando o jovem entende que optou pelo curso errado, o melhor é realmente buscar outro que lhe agrade mais, o mais cedo possível”. Bertelli explica que “o jovem deve unir o que gosta com as necessidades do mercado para ter boa chance de ser bem sucedido em sua profissão”.
A radialista Márcia Kelly Costa conta que em seu período de vestibular estava em dúvida em duas áreas de graduação, mas decidiu sua opção após passar por um curso rápido em uma rádio. “Sempre gostei das mídias tradicionais, no entanto, só decidi fazer comunicação após fazer um rápido curso na área e ter contato com a realidade da profissão”. Ela diz ainda que as pessoas desistiriam menos da faculdade, caso tivessem uma experiência anterior na área. “Acredito que se muitos tivessem um maior contato com a realidade das profissões que lhes interessam, certamente teriam mais facilidade na decisão do que fazer”, argumenta a radialista.