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Célia Borba é estagiária em um albergue para moradores de rua em Embu das Artes (SP). O fato não chamaria a atenção se não fosse a idade de Célia: 45 anos. Mas isso, segundo ela, não a impediu de se candidatar a um tipo de emprego em geral disputado por universitários entre 18 e 22 anos, por acreditar que o estágio é importante para seu futuro profissional. “Fui muito bem recebida. Minha supervisora tem a idade do meu filho, 26 anos. Foram momentos de grande aprendizado para ambas”, conta a aluna do último ano de Serviço Social.

Célia não está sozinha. De acordo com os levantamentos do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) e do Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube), estudar e estagiar com mais de 40 anos é uma realidade crescente no Brasil.

Só o CIEE tem quase 6 mil “quarentões” em organizações públicas e privadas no país. O número representa cerca de 3% dos seus 250 mil contratos. Já o Nube possui 3.849 cadastrados. Seu levantamento focou o estado de São Paulo e concluiu que, de janeiro a setembro de 2013, a contratação de estagiários nesse perfil cresceu 67,4% em relação ao mesmo período do ano passado.

“É uma tendência. Não sei se exponencialmente, mas essa distribuição deve ficar mais presente”, aponta Eduardo Sakemi, superintendente executivo do CIEE. Lizandra Barros, analista de treinamento do Nube, concorda: “Nós sempre estudamos o comportamento e o perfil da geração para entender o estudante atual. Então não houve tanta surpresa, mas os números têm peso.” Para os profissionais, entre os fatores que explicam esses números está o aumento da expectativa de vida do brasileiro, que entre os anos de 1980 a 2010, aumentou de 62,5 anos para 73,7 anos.

O paulista Augusto Amaral Dutra é exemplo disso. Aos 58 anos, é formado em administração, com pós em marketing. Sempre trabalhou nesse segmento, principalmente na área comercial. “Mas deu uma vontade de fazer uma segunda faculdade, que hoje já enxergo como opção de trabalho”, ele comenta como aluno do quarto ano do curso de psicologia.

Foi em um hospital para pacientes com câncer que Dutra sentiu a vontade de experimentar algo novo. Ele, que foi diretor do hospital, hoje participa do conselho e atua como voluntário em algumas áreas paralelas ao atendimento. “Comecei a me identificar com a atividade de psicologia e a gostar disso”, lembra.

A partir das exigências da graduação, Dutra fez estágios nas áreas escolar e organizacional. “A idade acaba pesando. Num grupo com pessoas de vinte, vinte e poucos anos, o pessoal te olha de outra forma. Às vezes presta mais atenção, te leva mais em consideração”, relata. “Mas isso num primeiro momento. Depois começam a ver que não existe muita diferença.”

Mercado vai aceitar


Entre os cursos com mais integrantes do time acima dos 40 estão pedagogia, direito, serviço social, administração e educação física, que são mercados mais flexíveis para diversificação etária.

Simone Frazão, analista de RH da People On Time Consultoria, explica que o mercado em geral está acostumado com a fórmula do gestor mais velho e do estagiário mais novo, e que empresas menores são mais abertas à ideia. “Ainda há certa rigidez, principalmente em grandes programas de estágios”, afirma. “E claro que toda mudança gera resistência, mas o mercado vai englobar esses estagiários mais velhos”, completa.

Entre os motivos que costumam gerar resistência, segundo ela, estão a preocupação dos recrutadores com possibilidade do estagiário se manter com um salário em geral baixo, além de uma eventual angústia pela efetivação, algo que o empregador nem sempre pode garantir.

A profissional acredita que aos poucos as empresas vão perceber as vantagens em contratar estagiários mais velhos. “Eles têm uma visão de mundo maior, mais facilidade de resolver conflitos, conseguem ver outras soluções, outros caminhos”, explica. Em contrapartida, diz ela, pessoas nessa faixa etária a vida pessoal tende a demandar mais atenção que a vida profissional. “O jovem  que está começando a carreira costuma se comprometer menos com a vida pessoal”, observa.


Do choque ao encontro de gerações


O levantamento do Nube foi baseado no Censo da Educação Superior de 2011 e no site da Associação Brasileira de Estagiários (Abres), que acompanha a evolução dos estagiários em São Paulo e no Brasil. Já a ideia da pesquisa do CIEE partiu do filme “Os Estagiários”, que estreou no fim de agosto no Brasil.

A comédia conta a história de dois vendedores experientes que perdem seus empregos. Quarentões e desatualizados no mundo da tecnologia, resolvem tentar o programa de estágio no Google, empresa que não tem limite de idade para se candidatar. Aprovados, passam a conviver e competir com estudantes na faixa dos 20 e poucos anos, maioria na companhia.

Os diálogos misturam referências de diferentes épocas, como o filme Flashdance, dos anos 80, e uma adaptação do jogo de quadribol, esporte praticado na saga Harry Potter, que chegou ao seu ápice nos anos 2000. Por meio da troca de experiências com os colegas de equipe e demais competidores, o choque inicial torna-se um agradável encontro. E no mundo real, tudo indica que será cada vez mais da mesma maneira. 

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