Seis em cada dez candidatos a emprego são reprovados por questões comportamentais. Seja em testes orais, práticos, psicológicos, de personalidade e aptidão, são as atitudes dos pretendentes a uma vaga de trabalho que mais têm pesado negativamente para a exclusão de candidatos na disputa pela vaga, independente do nível de instrução. Dificuldades vão desde problemas com relacionamento com os colegas até a incapacidade de conduzir conflitos, em cargos de gestão.
De acordo com a coordenadora do banco de empregos do Instituto Euvaldo Lodi em Goiás (IEL), Lidiane Monteiro, pela avaliação de currículos, muitos candidatos apresentam condições de aprovação, mas a falta de preparo para a seleção acaba fechando portas. “Ele entra na empresa pelo que tem no currículo, mas é desligado pelo comportamento”, completa.
A avaliação do comportamento analisa desde a postura facial, corporal, a vestimenta do candidato, passando pela capacidade de argumentação, conhecimento a respeito da vaga, do mercado e os objetivos que o concorrente pretende alcançar. “Na entrevista de emprego há perguntas chave que são conduzidas de forma natural, para deixar o candidato à vontade e dizer como é sua rotina”, explica a especialista.
A influência do comportamento começa a partir do momento que o candidato entra na empresa e na sala de entrevista. O estilo de vestir, de cumprimentar as pessoas, a forma de questionamento sobre a vaga, as respostas durante a entrevista, o linguajar, o tom de voz e a gesticulação têm peso crucial na aprovação ou no desligamento do candidato, conforme argumenta Monteiro.
Níveis
O peso do comportamento é praticamente igual em todos os níveis de emprego, independente da idade e de a vaga ser de nível operacional, técnico, superior ou de gestão, mas cada um desses níveis tem suas particularidades e exige posturas distintas.
Se a vaga é para o perfil operacional, o que mais conta é o relacionamento com os colegas. O bom relacionamento nas empresas anteriores, sem registros de atritos com imediatos e outras pessoas envolvidas, é um passo a mais na direção do emprego.
Para o perfil técnico, a coordenadora do banco de empregos do IEL lembra que, além das qualificações técnicas que são avaliadas através da análise de currículo e começam a ser comprovadas durante a entrevista, também têm grande peso a comunicação, a assiduidade e a pontualidade.
Alguns níveis acima, para os cargos de gestão e administrativos, tem mais peso a facilidade de relacionamento, a pontualidade, a comunicação clara sobre o trabalho, inclusive quando há problemas. Essas “qualidades” podem determinar o sucesso na empreitada.
Nos níveis de alta gestão, além de todas essas características, outros atributos também são levados em consideração, entre eles, os projetos desenvolvidos anteriormente, os resultados obtidos, se houve alguma dificuldade de relacionamento com os colaboradores e como conduziu conflitos dentro da empresa. “A partir desse ponto, e com algumas perguntas direcionadas, começamos a identificar alguns perfis”.
Passada essa avaliação, que é inicial e antecede outros processos como a avaliação dos conhecimentos práticos, apenas 40% dos candidatos continuam no processo de disputa pela vaga.
De acordo com Lidiane Monteiro, diante das oportunidades de crescimento profissional e educacional, que aumentam consideravelmente todos os anos, existe a necessidade de que as instruções sobre comportamento comecem a ser aplicadas nas escolas. Na falta disso, é importante que os candidatos procurem sempre interagir com pessoas que já estão no mercado. “As empresas dão grande importância para isso”.
Segundo ela, é importante ainda, buscar não somente a técnica, mas realmente conhecer a empresa onde se pretende trabalhar e o seu perfil. “Ela é formal, informal, tradicionalista, familiar? O ambiente é aberto ou mais fechado? O candidato vai conseguir se adaptar a realidade, ou vai encontrar dificuldades?”, ressalta.
A gestora de recursos humanos, Camila de Souza, adverte que erros de concordância e escorregões no português podem parecer problemas pequenos, mas não são. Não conseguir desenvolver uma capacidade de comunicação adequada é preocupante. “Para desenvolver isso é ideal conviver com pessoas diferentes. Assim, se adquire conhecimentos de outros mundos e de outras culturas fora de seu ambiente comum”, avisa.
No quesito estágios, um levantamento feito pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), mostrou que o mau desempenho na comunicação e no vocabulário durante as apresentações e atividades em grupo representam 12% das eliminações, seguido de falta de competências exigidas pelas vagas, com 10%, apresentação pessoal é de 7% e linguagem corporal (5%).