Na esteira de oportunidades profissionais, o diretor de Recursos Humanos da rede de Lojas Colombo, Francisco Honório Araújo Batista, foi subindo degrau por degrau. Ele ingressou na faculdade de Administração e logo buscou um estágio pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). Foi trabalhar no Curtume Pinheiros, em São Leopoldo, em 1996, onde encontrou um universo de informações. “Descobri que eu realmente gostava de lidar com as pessoas e com toda a dinâmica da área de Recurso Humanos”, comenta. A sua função como estagiário durou apenas três meses, pois logo ganhou a confiança da chefia e foi contratado para trabalhar como auxiliar do Departamento de Pessoal.
Consciente e seguro do seu ponto forte, ele buscou uma pós-graduação em Recursos Humanos e em Gestão Empresarial pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Batista está convicto de que uma empresa só consegue se profissionalizar e se desenvolver através de uma área de RH forte e com pensamento estratégico. E foi neste caminho que ele adquiriu experiência, atuando em empresas nacionais e multinacionais.
Hoje, além de diretor de uma das maiores redes de lojas do País, é também o atual presidente da Associação de Recursos Humanos da Serra Gaúcha, reeleito recentemente para a gestão 2012/2013, e conselheiro da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH/RS), seccional do Rio Grande do Sul. “Sempre trabalhei com foco no meu crescimento profissional, buscando conhecimento da atividade e uma boa formação educacional”, ressalta.
Batista aconselha aos estagiários que busquem fazer a diferença, dando o seu melhor. “Não importa se você não está numa grande empresa ou não recebe o melhor salário, sempre alguém estará lhe avaliando e um bom trabalho realizado é um trampolim para o emprego seguinte”, aconselha. Para ele, o aprendizado é o mais importante, pois o conhecimento é o que destaca um bom profissional.
Empresas buscam aproximar a escola do meio profissional
Historicamente, o início do ano é sempre uma oportunidade de buscar emprego ou estágio, pois cresce as ofertas de vagas, uma chance para quem quer entrar em 2012 garantido no mercado de trabalho.
O Centro de Integração Empresa-Escola do Rio Grande do Sul (CIEE-RS) tem em média 2.800 ofertas de estágios ao mês em todo o Estado. Com 42 anos de atividades, o Ciee e já oportunizou trabalho para mais 1,4 milhão de jovens. De acordo com o gestor de Relações Institucionais da entidade, Cláudio Inácio Bins, cerca de 8% desses acabam sendo efetivados. A instituição espera aumentar a demanda de ofertas em 7% a 10% em 2012.
Os cursos de maior absorção são Administração, Pedagogia, Direito, Ciências Contábeis e Informática, que representam mais de 50% das colocações. A coordenadora de estágios da Fundação Irmão José Otão (Fijo), Cristiane Nascimento, comenta que 827 alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) foram contratados para estagiar em suas áreas de estudo em 2011. Ela também observou a mudança no cenário corporativo com relação à lei, mas explica que, a partir de 2010, os estágios começaram a voltar à normalidade.
“As empresas puderam ver isso como desenvolvimento do aluno, pois com seis horas diárias, eles têm mais tempo para estudar e aumentar o aprendizado”, comenta. Atualmente, há 100 vagas disponíveis para o nível superior. Segundo ela, 90% das empresas proporcionam a efetividade. “A possibilidade de estágio faz com que o aluno modifique sua postura diante do mercado.”
Para a chefe de Divisão de Gestão de Estágios da Fundação para o Desenvolvimento de Recursos Humanos (FDRH), Lisiane Inês Roman Marangon, a lei foi importante pelo regramento a uma área que estava aberta. “Os jovens se preparam para o trabalho e é uma complementação para o estudo”, ressalta. A instituição atende a órgãos públicos e gerencia atualmente 10 mil estagiários e possui 400 vagas em aberto.
Características da Geração Y atraem a atenção das empresas
Conhecida como Geração Y ou Geração da Internet, os novos profissionais do mercado chamam atenção dos recrutadores. Como esses estudantes se desenvolveram em uma época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica, possuem mais facilidade com a linguagem da internet. “O que temos hoje é uma geração que pensa diferente, não aceita mais a imposição dos antigos chefes e quer trabalhar em um local onde admirem seu líder e também vejam um propósito no seu trabalho”, explica o especialista em Recursos Humanos e diretor de RH da rede de Lojas Colombo, Francisco Honório Araújo Batista. “Eles são mais informais e tratam suas lideranças com a mesma liberalidade que tratam seus pais”, observa.
Para ele, as empresas precisam envolver mais os novos profissionais para conseguir engajar os funcionários. Batista defendeu sua tese de mestrado sobre esse público. Ele fez uma pesquisa em uma metalúrgica de Caxias do Sul e pôde constatar que o nível de comprometimento da Geração Y era igual às demais gerações. Portanto, Batista está convencido de que as empresas precisam se adequar a esse novo perfil de colaboradores e devem se modernizar.
Os que se adeptam têm vaga garantida. Foi o que aconteceu com o estudante de Direito Antônio Morais Ventura, de 26 anos. Ele termina o curso no segundo semestre de 2011 e comemora a garantia do emprego. Estagiário desde julho de 2011 na Federação dos Círculos Operários do Rio Grande do Sul (Fcors), recebeu a notícia de que seria contratado como assistente jurídico tão logo recebesse o diploma da universidade. Ventura também aposta no conhecimento e busca focar sua atenção nos estudos. “O estágio é importante para somar experiência na área, além do mais, a parte financeira também ajuda a manter a faculdade”, diz.
Vagas ficam aquém da necessidade de mercado
A Lei do Estágio completou três anos da sua publicação em 2011. Entre as alterações, destacam-se a diminuição da carga horária e o tempo limite de dois anos de permanência em uma instituição. O estágio ficou mais focado no aprendizado do aluno, o que, para o gestor de Relações Institucionais do Centro de Integração Empresa-Escola do Rio Grande do Sul (CIEE-RS), Cláudio Inácio Bins, foi muito positivo. Outro aspecto é com relação ao recesso do estagiário. Após 12 meses de trabalho, o estudante tem direito a 30 dias de descanso remunerado. O auxílio-transporte e outros benefícios são compulsórios, mas a legislação estimula que essas vantagens sejam oferecidas.
Após a implantação da Lei nº 11.788/2008, devido ao receio das empresas com as modificações, o número de oferta de vagas caiu 40% e prejudicou milhares de jovens, agravado pela crise econômica do País. Os dados são do Núcleo Brasileiro de Estágio (Nube).
De acordo com a entidade, antes de aprovada a legislação, eram 1,1 milhão de estagiários no País, sendo 715 mil do Ensino Superior e 385 mil do Ensino Médio e Médio Técnico. Esse número recuou para 900 mil. Hoje, em 2011, existem 5,08 milhões de estudantes de nível acadêmico e apenas 14,5% conseguem estagiar, ou seja, 740 mil. Já no Ensino Médio, a situação é mais grave, pois dos 8,33 milhões, somente 260 mil estão estagiando, o que corresponde a 3,1%.
“O objetivo é ampliar a oferta de vagas para jovens no Brasil, onde o nível de desemprego é muito superior em relação às outras faixas”, explica o presidente do Nube, Carlos Henrique Mencaci. Como a lei diminuiu a carga horária, reduziu também o valor das bolsas. Mas algumas empresas não acharam a medida positiva e acabaram deixando de contratar estagiários. Alguns benefícios foram instituídos para estimular as organizações durante a contratação. “Elas ganharam vantagens como os incentivos sociais e fiscais, não precisando recolher INSS, FGTS, verbas rescisórias e 13º sobre a bolsa-auxílio”, comenta Mencaci. De acordo com o gestor de Relações Institucionais do CIEE-RS, Cláudio Inácio Bins, as instituições sentiram um pouco as alterações da lei, mas apesar disso, ela trouxe segurança jurídica às empresas.