Sobraram 4,8 mil bolsas de estudo para cursos superiores de ensino a distância no 1.º semestre.
Sobraram quase 5 mil bolsas de estudo oferecidas pelo Programa Universidade para Todos (ProUni) nos cursos de ensino superior a distância. O número absoluto, de 4.813, representa 87% das bolsas remanescentes da primeira chamada do ProUni, o que significa que quase nove em dez bolsas que sobram no programa são do ensino a distância - no ano passado, foram sete em dez (70%).
Para o primeiro semestre deste ano, o MEC liberou 123.170 bolsas do ProUni e sobraram 5.526. Para a Secretaria de Ensino Superior (Sesu) do Ministério da Educação (MEC), a explicação para a sobra de bolsas é uma combinação de falta de interesse dos estudantes e resistência em relação aos cursos de educação a distância.Especialistas no tema lembram que nem todas as instituições têm convênio com o ProUni e que outra explicação possível para as sobras diz respeito à rejeição de estudantes à entidade que oferece a bolsa.
Os dados deste semestre são semelhantes àqueles do mesmo período do ano passado: as bolsas remanescentes representaram 4% do total da oferta.Para o secretário da Sesu, Luiz Claudio Costa, fatores como a tradição do ensino presencial explicam o menor interesse do aluno sobre a graduação a distância. Mas o representante do MEC também enxerga outra explicação, mais ligada ao fator econômico."Existem casos em que as bolsas, na maioria, são parciais. Ou seja, o aluno ainda tem de pagar algo pelo curso", explica Costa.
Do total de quase 5 mil bolsas remanescentes do ProUni para a educação a distância, feita toda pela internet, 987 são para cursos integrais. "Por serem uma inovação (o curso a distância), existe ainda uma resistência. Há uma necessidade de (o aluno) conhecer melhor o sistema e reconhecer a educação a distância como uma modalidade de ensino", afirma o secretário Luiz Claudio Costa.O MEC abriu uma segunda chamada para bolsas do ProUni, mas os resultados só serão divulgados no próximo domingo, dia 13.
Outras hipóteses
Colaboradora da Associação Brasileira de Ensino a Distância (Abed), a professora Susane Garrido levanta outras duas hipóteses baseadas na sua experiência: pode haver falta de divulgação ou a faculdade que interessa ao aluno pode não possuir convênio educativo com o governo federal.A questão principal para ela é a resistência a essa modalidade de ensino. A professora afirma que, em países como a Inglaterra e a Alemanha, todas as áreas do conhecimento possuem uma versão virtual - incluindo áreas tradicionais da saúde e da engenharia."Isso é possível desde que a estrutura e as tecnologias da instituição estejam adequadas às necessidades de cada curso", defende.Vencer o preconceito, na opinião dela, é uma batalha que deverá durar ainda muitos anos."A resistência é política", diz ela, "e não leva em conta a eficácia do curso, a instrumentação tecnológica e o aprendizado.
"Em São Paulo, o governo estadual encontrou no ensino virtual uma forma de expandir os cursos de formação de professores e ampliar o número de profissionais formados em todas as áreas.Criada em 2009, a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp), fez parceria com as universidades estaduais paulistas (Unesp, Unicamp e USP) e o Centro Paula Souza para abrir as vagas e pôr em prática graduações, pós-graduações e cursos profissionalizante semipresenciais.Atualmente, segundo o governo estadual, são quase 5 mil vagas oferecidas pela Univesp para cursos superiores que duram até três anos. No caso de Pedagogia, por exemplo, a carga horária total é de 3.390 horas e 40% das aulas do curso são presenciais.
COMO PEDIR UMA BOLSA PROUNI
A inscrição para bolsas do ProUni na modalidade de educação a distância (EaD) respeita o mesmo processo dos cursos presenciais. Os prazos para as bolsas também são mesmos e, se há sobras, o MEC realiza novas chamadas
CURSOS
O estudante que se interessar por um curso superior a distância pode consultar a página do MEC: http://emec.mec.gov.br Na internet, estão disponíveis informações sobre instituições públicas e privadas, reconhecidas pelo MEC. Há como pesquisar por Estado e área de interesse.
Mercado ainda desconfia do ensino a distância
A discussão sobre a eficácia de um curso a distância extrapola os limites da universidade. No mercado de trabalho, especialistas se dividem quanto à recepção que o estudante recém-formado num curso superior a distância vai ter ao procurar o primeiro emprego. Alguns falam em resistência em relação ao "diploma vem pelo correio" de um curso não-presencial.
"Na idade de cursar a graduação, a opção deve ser pelo modelo presencial", diz Carmem Alonso, gerente de treinamento do Núcleo Brasileiro de Estágios. Para ela, há conservadorismo e preferência do mercado pelos candidatos que fizeram a graduação no modelo presencial, mas o cenário muda no universo de pós-graduação. "No Brasil, ainda há uma desconfiança com relação à graduação a distância. Mas não há quanto à pós-graduação. Nesse sentido, é sempre bem-vinda e só incrementa o currículo", diz.
Para outros profissionais envolvidos em seleção e treinamento, o curso não-presencial, quando bem feito, pode apresentar algumas credenciais muito bem recebidas pelo mercado de trabalho, como "disciplina, organização e atenção a prazos", essenciais para cumprir o extenso cronograma de atividades existente na maioria dos cursos não-presenciais."Os que se formaram mostram que têm bastante disciplina, empenho, são organizados e cumprem prazos", acredita Constantino Cavalheiro, diretor da Catho Educação.
"No processo seletivo, a empresa não avalia a modalidade de ensino, mas a instituição. Se é de renome, é aceita. O que conta é a reputação da escola. E mais importante que o certificado é o conhecimento do aluno e sua capacidade de apresentar resultado."Os números do último censo do ensino superior a distância mostram que o porcentual de jovens com menos de 18 anos interessados nas faculdades virtuais é de apenas 2%. O estudante dessa modalidade tem, na maioria, entre 35 e 39 anos, ganha até três salários mínimos e é do sexo feminino.