A média da bolsa-auxílio para estagiários em Minas Gerais caiu 9%, segundo pesquisa do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube). No ano passado, os estudantes recebiam, em média, R$ 696,84. Neste ano, o valor médio registrado foi de R$ 635,30. O levantamento abrange ensino médio, técnico, tecnólogo e superior. O rendimento de um estagiário mineiro também está 7% menor que a média nacional, calculada em R$ 683,33. "Os principais motivos são queda de oportunidades de estágio para alunos de ensino médio e a redução da jornada diária de oito horas para seis horas", explica Carlos Henrique Mencaci, presidente do Nube.
Segundo Mencaci, existe uma relação na queda do valor das bolsas com a atividade econômica no Estado. "A nova lei de estágio, que surgiu junto à crise econômica, forçou as empresas a se reposicionarem em relação ao número de vagas, que caiu bastante em 2010 e, consequentemente, tiveram o valor da bolsa reduzido", explica.
Segundo dados do Sistema Nacional CIEE-MG, entre 2008 e 2009 houve redução de 10,7% de estudantes em estágio somente em Minas Gerais. No mesmo período, o número de estagiários efetivados em regime CLT teve queda de 23,5%. Sebastião Alvino Colomarte, superintendente adjunto do CIEE-MG, também acredita que a crise afetou os estágios, mas também cita a nova legislação. "A expectativa para este ano é que os resultados voltem aos níveis de 2008 até pelo volume de empresas que tem nos procurado", avalia.
Nova lei. Um dos principais impactos da lei nº 11.788/2008 na contratação de novos estagiários pelas empresas é que os estudantes têm direito a férias remuneradas após um ano de atividade supervisionada. Outro fator que trouxe desconforto para as instituições, segundo o superintendente do CIEE-MG, é a limitação do número de estagiários, que é calculado de acordo com o quadro de funcionários. "O terceiro ponto é que a lei definiu o que é estágio obrigatório e não obrigatório. Se o estágio é definido como pré-requisito no curso, a empresa não tem a obrigação de remunerar o estudante. Por outro lado, quando a atividade é opcional, acrescida à carga horária regular e obrigatória, a instituição deve pagar uma bolsa-auxílio ao estudante", afirma.
Durante um ano e meio, Henrique Christo Guimarães Guzella,19, fez estágio pelo curso técnico de informática na empresa de TI Spread Systems, em Belo Horizonte. Na época, o estudante recebia uma bolsa-auxílio no valor de R$ 200. Hoje, Henrique está na graduação de Sistema de Informação (UFMG), permanece estagiário na mesma instituição e ganha R$ 400 mais benefícios, como vale-transporte e refeição. Ele trabalha quatro horas por dia e sua principal função é criar, testar e desenvolver interfaces para programas. "A bolsa que recebo me ajuda, mas, pela natureza e pela quantidade do trabalho, acho que deveria ganhar um pouco mais. Eu tive que correr atrás para conseguir um aumento", conta o estagiário.
Recém-contratado para trabalhar seis horas por dia na área de informática com criminalística digital, o estagiário Alysson Fernandes, 23, que começou seu primeiro estágio no quinto período recebendo R$ 600, atualmente ganha R$ 1.000, além de vale-transporte e tíquete alimentação. Por estar quase no final do curso, o estudante de ciência da computação acredita que a experiência e as funções no estágio influenciam no aumento gradativo da bolsa. "À medida que avançamos na faculdade, adquirimos mais conteúdo, mais experiência. E a proposta de salário que tenho condiz com as tarefas que realizo, já que também preciso ter conhecimento em outras áreas além da minha, como direito, por exemplo", afirma Alysson.
Maiores
Bolsa-auxílio para curso superior em Minas Gerais:
- Secretariado: R$ 1074,50
- Engenharia: R$ 869,75
- Marketing: R$ 865,05
- Economia: R$ 827,77
- Relações Públicas: R$ 688,40
- Ciência da Computação: R$ 635,65
- Administração: R$ 626,15
- Ciências Contábeis R$ 617,43
- Sistemas de Informação R$ 607,50
- Publicidade e Propaganda: R$ 586,20
Fonte: Nube
Poucos conseguem vaga
Segundo dados estatísticos do Nube, existem cerca de 8,3 milhões de estudantes em todo o Brasil. Desse total, 13% conseguiram estágio com nível superior e 3% com nível médio. Conforme pesquisa do Nube, a situação mais grave, hoje, é a do estagiário de ensino médio. A bolsa-auxílio sofreu redução de 8,5% em relação ao ano passado. A nova lei reduziu 60% das oportunidades para estudantes de ensino médio porque limitou o estagiário a trabalhar somente em micro e pequenas empresas, com contrato proporcional ao número de funcionários, afirma o presidente do Nube, Carlos Mencaci.
Conforme levantamento do CIEE-MG, os cursos mais beneficiados com oportunidades de estágio nos últimos quatro meses para ensino superior são administração, direito, pedagogia, ciências contábeis, educação física e psicologia. Já para o ensino médio são técnico em informática, administração, mecânica, eletrônica e enfermagem. Para Sebastião Alvino, superintendente adjunto, a área de administração, por exemplo, tem muita empregabilidade. Processamentos de dados, informática, prestação de serviços, transportes e logística são áreas que absorvem muito o profissional formado em administração.
Apesar de o número de estudantes ser superior à oferta de vagas, os candidatos mais bem preparados têm mais facilidade para se inserir no mercado de trabalho. Além de saber informática, o sucesso parte da facilidade de comunicação, trabalho em equipe e liderança. Não podemos deixar de lado o nível de conhecimento em português, reforça Mencanci. (Da redação)