Erros como escrever nóis sabemos ou univercidade em redações e testes de português complicam a vida de muitos universitários em seleções para estágio. Diante desse quadro, os selecionadores demonstram preocupação.
Levantamento feito pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) a pedido do G1 revelou que apenas 32% dos candidatos avaliados pelo núcleo passaram no teste de português em 2009 o equivalente a 12.577 estudantes de um total de 39.304.
O teste inclui 30 questões de ortografia. Para passar, o estudante pode errar até seis delas. Em 2009, apenas 5% dos estudantes acertaram todas as perguntas, outros 27% erraram de 11 a 29 questões e 41%, de sete a dez. Nenhum candidato errou o teste todo.
De acordo com Carmen Alonso, gerente de treinamento do Nube, os erros de português são vistos como falha na formação do candidato, pois o esperado por parte das empresas é que os estudantes tenham domínio do português e conhecimento de pelo menos um segundo idioma.
Carmen ressalta que ter um bom português é importante para todos os candidatos, mesmo aqueles das áreas de exatas. Não importa qual seja a área de atuação. Quando um engenheiro entra em uma empresa e apresenta um slide com erros de português, o erro colocará em dúvida a qualidade de seu trabalho."
Erros
De acordo com o Nube, além dos erros nos testes, os candidatos também cometem falhas graves nas redações e durante as entrevistas. Entre elas estão problemas de ortografia, pontuação, concordância, uso de gírias e abreviações (como p/ no lugar de para).
No Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), que também recruta jovens para vagas de estágio, o problema reaparece, diz Noeli David, supervisora do centro. Os erros são cometidos por estudantes de cursos como direito e pedagogia, o que nos deixa bastante assustados, disse. Veja no quadro abaixo os principais erros cometidos pelos estudantes.
De acordo com a professora de língua portuguesa da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Jeni Turazza, o problema muitas vezes está na formação dos estudantes. A pessoa precisa ter uma formação sólida em termos de ensino fundamental, médio e graduação. Hoje estamos alfabetizando em cursos de pós-graduação, o que é preocupante, disse.
Para a professora, no mercado de trabalho o saber não pode se restringir à área em que o candidato atuará. Hoje há instituições que vendem formações rápidas. O mercado cobra muito mais do que isso. Os saberes devem contemplar relações interpessoais, interculturais, normas socioculturais, saber como se vestir e se portar, disse.
Jeni ressalta que os estudantes precisam ler mais e ampliar os temas da leitura. Segundo ela, muitos profissionais leem apenas publicações de assuntos técnicos. Só se aprimora os conhecimentos por meio do acesso à cultura, afirmou.
Internet
Para a professora Jeni Turazza, o mau uso de ferramentas da internet colabora para que os estudantes não aprimorem o português. Isso porque os jovens passam muito tempo em redes sociais, o que, segundo ela, não traz muito conhecimento. Há boas bibliotecas virtuais, por exemplo, diz.
A especialista acredita que a questão não é apenas criticar o uso da internet, mas sim excluir os demais meios linguísticos.
Carmen, do Nube, acrescenta que os estudantes precisam ter a consciência de que não podem fazer sempre o que gostam. A vida acadêmica é um ensaio da vida corporativa. No trabalho, muitas vezes fazemos o gostamos e o que não gostamos. É claro que damos preferência para o que mais gostamos, mas a falta de conhecimento em outro campo é mal vista, diz.