Lições de pequenas e médias empresas que conseguiram contratar bons profissionais com programas de estágio bem estruturados
No segundo semestre, muitas faculdades e cursos técnicos estão buscando empresas interessadas em fazer parcerias para encaminhar seus alunos ao mercado de trabalho em 2007. Por isso, agora é a hora de estruturar um bom programa de estágio para atrair os melhores jovens que saem dos bancos escolares. "Um dos maiores desafios das pequenas empresas é ter gente boa para que elas possam crescer", diz Sérgio Azevedo, presidente da Collins, consultoria de recursos humanos. "Os pequenos e médios empresários devem entender que o estudante pode ser um manancial de informações muito importante para os negócios.? A reportagem de EXAME PME foi a campo para verificar se havia pequenas e médias empresas com políticas de recrutamento de estagiários - e como eles poderiam ser aproveitados com inteligência. Encontramos. Uma delas é a paulista Buonny, que fatura 12 milhões de reais por ano com monitoramento de transporte de cargas. Em 1999, a empresa acelerou seu ritmo de crescimento e precisou contratar bons profissionais. Foi difícil encontra-los. "Percebemos que teríamos de formá-Ios dentro de casa?, diz Vivian Basílio, supervisora de recursos humanos.A idéia era achar jovens que ainda estivessem estudando, treiná-Ias de acordo com a cultura da empresa, submetê-Ios a um processo de seleção natural e ficar com os melhores. Essa mentalidade ajudou a Buonny a triplicar seu quadro de funcionários nos últimos três anos para sustentar seu crescimento de 40% anuais nesse período. Dos 300 funcionários atuais, 73 são estagiários, que atuam em diferentes áreas da empresa. Eles foram recrutados em cursos de nível superior, em escolas selecionadas do ensino médio e alguns puderam ser encontrados no projeto governamental Primeiro Emprego. Aqueles que tiveram melhor desempenho fizeram carreira. Foi o caso de Renato Faria, de 26 anos, que chegou como estagiário da área operacional em 1999 e hoje é gerente de projetos. "No último ano, acabamos ficando com cinco jovens, o que é um bom aproveitamento", diz Vivian. Muitas pequenas e médias empresas não se dão ao trabalho de estruturar um programa desse tipo porque acreditam que os melhores alunos estão em busca de uma grande empresa. Isso não é sempre verdade. A agência de recrutamento e seleção Companhia de Talentos, de São Paulo, fez uma pesquisa com mais de 14.000 universitários e concluiu que eles não escolhem onde vão estagiar pelo tamanho da empresa, mas pelas chances de ser efetivados. "Além disso, há vários que querem aprender diferentes processos num curto período", afirma Sofia do Amaral, sócia da agência. "Esses dão preferência a uma empresa menor, onde é mais fácil encontrar esse tipo de coisa." Depois de iniciado o programa, o desafio seguinte é fazer com que os estagiários que mais se destacaram permaneçam, "Isso só vai acontecer se o jovem perceber que está aprendendo e que as chances de ser efetivado são reais", afirma Rossano Lippi, diretor da agência Central de Estágios. Por isso, é importante que a empresa defina claramente as funções que o estudante vai executar, faça um cronograma com a evolução das atividades previstas para ele, prepare os executivos que irão acompanhar seu desempenho e desenhe um plano de carreira para os que demonstrarem futuro. "Com um bom programa de estágio, a empresa ganha evidência no mercado, além de aumentar ano a ano as chances de atrair mais gente boa? afirma Seme Arone Junior, presidente do Núcleo Brasileiro de Estágios. De acordo com especialistas da área, o custo total por estagiário é de 2.200 reais para divulgação da vaga e treinamento anual dos estudantes. É necessário desembolsar ainda cerca de 1.200 reais por mês para o pagamento de bolsa-auxílio mais benefícios. A Boa Vista, empresa cearense de terceirizacão de softwares de cobrança, reservou parte de seu faturamento anual de 4 milhões de reais para manter 47 estagiários. Na Boa Vista, depois de passar por diversas áreas, o jovem é avaliado para identificação de qual setor da empresa mais se encaixa no seu perfil. "Os estudantes aqui não são tapa- buracos", afirma Kelma Pinheiro, diretora de serviços. Em oito anos de programa, a empresa já acolheu várias sugestões que partiram dos jovens. Uma delas foi a criação de uma central de atendimento aos clientes. "Os estágios estão dando tão certo que estendemos o programa para outras regionais da empresa?, diz Kelma.