O Brasil pode estar enfrentando atualmente um cenário desolador quando o assunto é a aprendizagem de jovens, pois quase metade dos estudantes não está aprendendo a ler e escrever na idade certa. As razões disso variam entre diversos impasses sociais e, historicamente falando, o país luta contra uma série de desafios para conseguir alfabetizar suas crianças até os sete anos, como recomendado. Assim, o investimento em políticas públicas é necessário, garantindo a todos terem as mesmas oportunidades. Entenda mais sobre esse contexto e a realidade atual da nação.
A realidade educacional no Brasil atual
Uma pesquisa de opinião do SESI e do SENAI mostra a dimensão educacional no Brasil. Apenas 15% dos brasileiros com mais de 16 anos afirmam estarem matriculados em alguma instituição de ensino, com diferenças consideráveis por região, faixa etária e renda, mas 53% na faixa etária de 16 a 24 anos. A necessidade de trabalhar é o principal motivo (47%) para interrupção, mas 18% tem como razão uma gravidez ou filho. O levantamento ouviu 2 mil pessoas nas 27 Unidades da Federação, tendo uma amostra representativa da população brasileira.
No geral, o índice de ativos é maior no Nordeste (18%) e menor no Sul (10%), assim como na capital (17%) em comparação com a região metropolitana (9%). Para os detentores de uma renda familiar acima de cinco salários mínimos, a frequência também é mais elevada (24%), diferentemente de quem a verba é menor (9%). Entre os em formação, só 16% estão no Ensino a Distância (EaD), chegando a 35% entre 41 e 59 anos. O EaD também está mais presente no Sul (24%) e menos no Nordeste (13%).
“Não podemos ter um projeto de país, para o desenvolvimento social e econômico, sem considerar a educação. Conhecer os motivos e o perfil dos jovens e adultos os quais interromperam sua evolução profissional, é indispensável para criar oportunidades e reduzir desigualdades”, alerta o diretor-geral do SENAI e diretor-superintendente do SESI, Rafael Lucchesi. O ensino médio é, provavelmente, a etapa mais emblemática. Segundo o Censo Escolar 2021, cerca de 1 em cada 10 alunos reprovam (4,7%) ou abandonam (4,2%) o colégio no 1º ano. A taxa de “bombas” cai para 3% no 3º ano, mas o de afastamento sobe para 4,7%.
Três questões para se atentar nesse cenário
Conforme dados apresentados em uma reunião entre o Ministério da Educação (MEC) e a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime), somente quatro a cada dez crianças brasileiras concluíram o 2º ano do Ensino Fundamental alfabetizadas em 2021. “A alfabetização é um processo complexo e sofisticado, do ponto de vista humano, e exige esforço plural: governo, professores, estudantes e famílias precisam caminhar juntos para melhorar a Política Nacional de Alfabetização de tal forma a haver melhoria dos resultados”, comenta Acedriana Vogel, diretora pedagógica da Aprende Brasil Educação.
Segundo a especialista, essa ação tem certos direcionamentos. O primeiro deles é a aplicação de recursos na formação em serviço de professores dos anos iniciais de aprendizado. Depois, é preciso se dedicar a qualidade dos recursos didáticos disponibilizados, com a aquisição da leitura e da escrita. “Precisamos de propostas engajadoras e desafiantes, adequadas às possibilidades de trabalho com cada faixa etária e considerando também os interesses dos estudantes”, ressalta.
Um segundo ponto de atenção tende a ser o bom aproveitamento da tecnologia, conversando com os meios impressos acessados. “O foco deve se concentrar na velocidade dos diagnósticos a serviço da qualidade da intervenção pedagógica, bem como na possibilidade de personalização, compreendendo os diferentes tempos e maneiras de aprender”, afirma.
Por fim, um outro quesito de extrema relevância o qual a escola não consegue cumprir é o papel dos parentes no processo. “É muito potente a vibração da família com cada conquista, criando estratégias em casa valorizando a leitura e incentivando os registros escritos, desde as hipóteses mais rústicas de cada um”, destaca Acedriana.
O processo pedagógico na visão populacional
A alfabetização habilita o desenvolvimento de competências importantes para o pleno exercício da cidadania. Portanto, o acesso ao mundo letrado é uma forma de combater os desníveis sociais, pois amplia o repertório humano e permite um trânsito digno nas esferas de existência: no mundo empregatício, das leis e da cultura, dando acesso ao produzido em meio a população. “A ampla atividade social possibilita a conquista de autonomia, assumindo de maneira crítica e criativa a responsabilidade pelas escolhas, assim como pelo impacto delas na sua vida e em sociedade”, explica a professora.
No geral, a população reconhece haver uma lacuna quando o assunto é a escolaridade. A alfabetização tem a pior avaliação de qualidade: 47% dos entrevistados a julgam como boa ou ótima e 20% ruim ou péssima, enquanto o ensino técnico tem 58% de análises positivas e somente 8% negativas.
Como um todo, 23% apresentam uma noção ruim da rede pública e só 30% uma ideia satisfatória. Já a privada é vista como excelente por 50% dos entrevistados. “A população tem uma clara percepção de termos uma deficiência nos anos iniciais, a alfabetização e as creches, as quais ainda têm problema de abrangência. O Brasil não conseguiu cumprir a agenda da educação no século XX como outros países. Deveríamos estar discutindo inovação no século XXI, mas carregamos questões estruturais, de qualidade e na matriz educacional, as quais travam nosso desenvolvimento”, finaliza Lucchesi.
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