Dados recentes, do segundo trimestre de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicaram 10,1 milhões de desempregados no país. Entretanto, ao mesmo tempo, um terço das demissões têm sido voluntárias, ou seja, a quantidade de pessoas “pedindo conta” tem aumentado gradativamente, de acordo com levantamento da LCA Consultores. Tais estatísticas podem soar contraditórias, mas são um fato: há desemprego, porém parte da população tem largado o seu trabalho. Contudo, esse não se trata de um movimento pontual, são consequências do chamado “the great resignation”, fenômeno experimentado agora no Brasil e em expansão em boa parte do planeta. Conheça mais sobre o significado dessa tendência agora.
Em tradução livre, o termo significa “grande renúncia”. Na prática, reflete o seguinte: trabalhadores insatisfeitos, não exclusivamente com as demandas, mas também com seu atual modo de vida, decidem se afastar das tarefas. “As pessoas estão encontrando no abrir mão do emprego e tentativa de novas experiências, um caminho para buscar satisfação e felicidade”, pontua o executivo Márcio Monson, fundador e CEO da Selecty, empresa curitibana de tecnologia para recrutamento e seleção.
A partir dos seus 15 anos de contato próximo com a área de RH, Monson avalia como o fenômeno traz desafios às organizações e, em particular, aos setores de recrutamento e seleção. “Os dados, as notícias recentes e a vivência prática mostram como o ‘the great resignation’, onda verificada nos Estados Unidos, na Europa, na China e na Índia, também já é realidade no Brasil. As organizações precisam estar preparadas, identificando como tornar as vagas oferecidas não só atraentes do ponto de vista da empregabilidade, mas da satisfação proporcionada ao profissional”, explica ele.
O movimento recebe outras denominações, como “big quit” e “great reshuffle” (“grande debandada” e “grande renúncia”), todas elas mostram o seu significado e consequências. “É uma migração de pessoas, de seus trabalhos, muitas vezes bem remunerados e relativamente estáveis, para outros propósitos. Quem considera suas atividades trazendo menos dinheiro e status, mas geram mais felicidade, por exemplo”, comenta o CEO da Selecty.
Os campos afetados e a influência da pandemia
Trata-se de um comportamento, ainda segundo o especialista, bastante acentuado depois da pandemia da Covid-19. A crise sanitária mundial forçou a população a adotar uma mudança de hábitos, trouxe incertezas, medo e fomentou reflexões constantes. Nesse caminho, vieram decisões por rupturas, por alterar estilos de vida e adotar novas jornadas. “Recentemente, foi noticiado como, nos Estados Unidos, apenas entre setembro e outubro do ano passado, 8,5 milhões de pessoas pediram demissão, sem ter outra vaga em perspectiva. Aqui no Brasil, a constatação da LCA, mostra: dos 1,8 milhão de desligamentos registrados apenas em março, mais de 600 mil (ou 33%) foram voluntários. São dados para serem observados e acompanhados com atenção”, sublinha o executivo da Selecty.
De acordo com ele, essa nova moda afeta, principalmente, postos-chaves, cargos os quais qualificação e outros atributos muitas vezes difíceis de serem encontrados, além, é claro, de engrossar as estatísticas do desemprego. “Os efeitos internos, nas organizações, e externos, na conjuntura econômica, devem ser mensurados. Seguramente falando, são significativos”, projeta.
Reverter o fenômeno passa por combater culturas tóxicas nas corporações, como excesso de pressão, insegurança e falta de reconhecimento profissional. Essas costumam ser razões para motivar as “renúncias”, menos, inclusive, às ligadas ao salários, por exemplo, considera o CEO da Selecty. “As organizações, de um modo geral, e os profissionais de recrutamento e seleção, em particular, precisam estar atentos a isso”, analisa. Ou seja, motivações de ordem psicológica e comportamental são as mais constantes, acima, até mesmo, daquelas ligadas a fatores materiais.
A visão de quem opta por essa decisão
Pensando por esse lado, o discente Daniel Arantes deu o seu depoimento pessoal sobre mudança de campo de atuação. “ Essa escolha veio de uma vocação natural minha. Gostar de ler materiais de história, me manter atualizado e interessado por notícias, trabalhar com informação, veio comigo desde criança. Cresci no meio de livros e jornais, isso me manteve antenado, na medida do possível”, comentou. Atualmente, o acadêmico estuda jornalismo na UFSJ (Universidade Federal de São João Del Rei), entretanto, sua primeira formação foi em zootecnia. “Quando fui escolher meu vestibular, por uma série de fatos e vivências, acabei indo para outra área fora do curso de humanas, o qual já tinha uma aptidão natural e desejo. Caí de paraquedas na zootecnia e fui conciliando, tentando me encontrar no campo por meio da agricultura orgânica e agroecologia, dando sequência no curso técnico o qual eu já tinha feito, onde realizei estágio com laticínio”, explicou.
Ao seguir carreira como pesquisador no âmbito de alimentos e queijos artesanais, o estudante realizou o doutorado e se encontrou frustrado com algumas disciplinas e visão da academia em relação a alguns problemas com questões de pesquisa. Com isso, passou a rever sua vida. “Resolvi retomar com o curso de história. Porém, analisando o conteúdo programático, me encontrei muito mais na comunicação social, por achar mais dinâmico e resgatar meus conhecimentos com meios de comunicação na época pré Internet. O funcionamento atual me despertou interesse”, revelou Arantes.
Nesse caso, o mercado de trabalho não foi um ponto de impacto na decisão. Ou seja, sua motivação foi pessoal e não financeira. O pesquisador já tem um trabalho estabilizado, concursado da empresa de pesquisa da pecuária de Minas Gerais. “Tenho uma produção acadêmica relativamente boa, um cargo interessante, projetos em andamento e, inclusive, penso em conciliar as duas profissões. Acompanhei bastante a mudança da estrutura de mídia com o advento da Internet, Youtube e de todos os meios disponíveis hoje em dia, mas ainda não conheço realmente o mercado de jornalismo e como funciona”, pontuou ele.
Finalizando, o profissional afirma estar muito contente com a sua decisão. “Acho o curso eclético apesar de ter sido prejudicado pela pandemia. Contudo, dentro da minha vivência de fazer reportagem, produzir podcast e trazer isso para a minha vida está sendo gratificante e estou muito feliz”, comentou. Assim, fica claro como, de fato, essa nova “moda” está inserida no cotidiano da população como uma procura por novos ares e descobrimentos.
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