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Diversidade: é preciso incluir os autistas nas empresas 

Notícia | 06/04/2022

Giovanna Cavalli

A promoção da diversidade e inclusão no ambiente corporativo não apenas é uma atitude ética a ser tomada pelos líderes, mas também contribui para a produtividade dos colaboradores. Contudo, essa movimentação não se limita à questão racial ou de gênero, vai muito além com a inserção dos autistas, por exemplo. Já parou para pensar nisso? Por isso, jovens estagiários e aprendizes devem olhar para esses aspectos ao escolher uma empresa.

O que é, de fato, o Transtorno do Espectro Autista?

A integração de pessoas com esse transtorno no mercado de trabalho é garantida por lei, mas na prática, ainda é um grande desafio. De acordo com levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 85% dos indivíduos com a condição não trabalham formalmente.

Nesse sentido, na missão de colocar indivíduos com qualquer tipo de deficiência no mundo corporativo e na educação, o Instituto Ester Assumpção trabalha em prol da conscientização dos gestores das organizações para compreenderem o potencial produtivo desse grupo.

Primeiramente, é preciso entender o Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido como popularmente autismo.Trata-se de um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado pelo desenvolvimento atípico das capacidades de comunicação e interação social, as quais podem ou não estar associadas a déficits intelectuais.

Vale ressaltar: não é uma doença, mas sim um modo diferente de se expressar e reagir. Portanto, quem tem pode exercer diversas atividades profissionais, sim. Para a psicóloga e coordenadora de projetos do Instituto Ester Assumpção, Cíntia Santos, a falta de informação e o preconceito levam empregadores a acreditarem na incapacidade dessas pessoas em realizar tarefas sob pressão e não conseguirem criar relacionamentos benéficos às atividades corporativas.

Então, o combate ao prejulgamento e a inclusão integral desses cidadãos é uma pauta coletiva. A sociedade precisa ampliar a visão acerca desse público. “É um desafio grande e o caminho para vencê-lo passa, sobretudo, pelo acesso à informação de qualidade sobre o TEA. Somente com conhecimento será possível diminuir de forma significativa o estigma e facilitar a incorporação deles”, destaca a psiquiatra da infância, adolescência e vida adulta e coordenadora do ambulatório de autismo TEAMM da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Daniela Bordini.

A importância da pauta

De acordo com Cíntia, um dos problemas está exatamente na falta de conhecimento dos gestores. “A principal motivação para termos um número tão baixo de contratações no mercado de autistas pode estar atrelado à questão da imprevisibilidade, as quais os responsáveis de recursos humanos (RH) acreditam existir nesses indivíduos”, avalia.

Ou seja, pela falta de informação desses líderes, eles não sabem como lidar e esperar em termos de resultados e comportamentos. “Por isso, o Dia Mundial de Conscientização Sobre o Autismo (celebrado em 2 de abril) é necessário também para mostrar à sociedade e às organizações os potenciais desse seres humanos, e a urgência de quebrar a discriminação ainda existe no universo laboral”, comenta a psicóloga.

Para a especialista, se as entidades enxergarem esse potencial produtivo, todos ganham. “Para isso funcionar de verdade, a companhia também deve preparar toda a sua equipe para recebê-los. Não é só admitir, mas, sim, entender as especificidades e realizar as adaptações para minimizar as dificuldades naturais da condição. Por isso, é fundamental preparar o time e ao mesmo tempo levar informações úteis sobre o TEA”, recomenda.

Para as instituições as quais não sabem qual tipo de caminho traçar para ter essa colaboração, Cíntia complementa: “ao contrário do pensamento de muitos, cada pessoa com TEA é única, por isso faz toda a diferença conhecer o perfil desse trabalhador, para assim, encontrar as atividades laborativas nas quais ela poderá explorar o máximo de seu potencial. Assim, o funcionário ganha com mais reconhecimento e as corporações podem alcançar resultados muito melhores”, conclui.

A necessidade de informação

Para Daniela, ao conhecer as dificuldades, dirigentes e colegas de ofício se tornam mais compreensivos e cooperativos em relação aos maiores desafios daquele sujeito e podem fazer ajustes necessários para melhor execução ou desempenho ocupacional. “Ao tomar conhecimento de suas aptidões, eles podem ser direcionados para áreas e funções específicas e, certamente, poderão evoluir de maneira muito eficiente e muitas vezes acima da média”, diz.

Consoante com a coordenadora do ambulatório de autismo da Unifesp, a colocação laboral é um fator essencial para quem tem TEA. “Assim, eles conseguem ampliar a qualidade de vida e satisfação pessoal, diminuindo assim as taxas de depressão, ansiedade e ideação suicida tão frequentes nessa população”.

Para isso acontecer de maneira saudável para todos, novamente a consciência é o cuidado primordial. “Como existe uma diversidade de fatores pessoais já descritos na literatura, o ‘cabeça’ precisa compreender as características comportamentais, suas limitações e materiais, de modo a inseri-la em tarefas alinhadas com esses pontos. Isso exige preparo também do contratante e, com ele, é possível vencer uma importante barreira”, explica a psiquiatra.

Daniela lembra como isso é algo contínuo e sem prazo fixo de conclusão. “Ou seja, a entidade deve realizar ações constantes tanto para quem entra quanto para aqueles ao redor e se sintam bem e confortáveis. Além disso, sempre valorizando as destrezas, as necessidades específicas e respeitando as limitações”, conclui.

As empresas devem se adequar

Nesse sentido, para 92% dos trabalhadores a Diversidade e Inclusão (D&I) são características importantes nas entidades, conforme a pesquisa “Diversity & Inclusion in the Global Workplace” (em português, Diversidade & Inclusão no Ambiente de Trabalho Global), conduzida pela Lenovo e pela Intel. Assim, 88% dos pesquisados levam em conta políticas do tema, nas corporações, quando procuram por uma vaga.

Portanto, a adaptação aos novos contextos é fundamental para manter uma marca admirada. Por isso, acabar com as discriminações é uma necessidade altruísta. Independentemente do ambiente, setor, ocupação e etc. Afinal, somos todos seres humanos.

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