O documentário produzido pela Netflix, “Golpista do Tinder”, começou a ser exibido em fevereiro de 2022 e tem ganhado holofotes pelos detalhes de como o israelense Simon Leviev conduziu mentiras para roubar mais de 10 milhões de dólares de suas vítimas. Se passando por um bilionário, ele conseguia convencer mulheres conhecidas por meio do aplicativo de relacionamento a emprestarem dinheiro e cartões de crédito. Assim, ostentava uma vida de luxo envolvendo outras pessoas. No entanto, a série deixa lições para gestores tomarem cuidado para não terem funcionários ou estagiários com esse perfil dentro de suas empresas.
A relação com o mundo corporativo
O estelionatário, preso após a denúncia de uma de suas escolhidas, já está livre e ostentando uma vida de riqueza. O curioso é: somente após a grande repercussão do documentário, o aplicativo baniu Leviev e, enquanto ele resgatou sua rotina sem nenhuma dificuldade, as mulheres enganadas seguem endividadas tentando recuperar suas perdas.
Na sua corporação, você conhece realmente com quem trabalha? Se fizermos um paralelo do Tinder com um currículo, podemos questionar se as áreas responsáveis pelo recrutamento e seleção fazem, de fato, uma análise das pessoas que contratam. Levando em consideração o fato de muitas organizações deixarem de revelar as fraudes cometidas por seus colaboradores para blindarem suas marcas, cabe a quem está contratando realizar um estudo minucioso de quem vai compor seu time.
Nesse sentido, o diretor da Aliant, Thacio Chaves, deixa orientações de como evitar situações desse tipo. “Uma primeira medida é realizar o background check, ou seja, levantamento de dados por meio de pesquisa a fontes públicas e abertas para conhecer informações e vivências pregressas do candidato e confirmar se existe a compatibilidade com o currículo ou apresenta novos elementos relevantes”.
Essa metodologia funciona como se fosse um retrovisor, para ajudar a enxergar todo o histórico do aspirante, ajudando a entender a trilha do passado e o risco reputacional representado por ela. “Como exemplo, é interessante analisar os processos anteriores, assim como seu posicionamento em redes sociais para checar se possui um perfil diferente do almejado. Milhares de fontes podem e devem ser consultadas”, destaca Chaves.
Outro passo é analisar a flexibilidade moral do indivíduo e entender como ele se comporta diante de dilemas éticos do dia a dia e se esses são coerentes com o propagado pela instituição. Nesse caso, envolve uma entrevista especializada, mas não para entender o passado e, sim, o futuro, visando avaliar como ele agiria em uma determinada situação.
Fazendo um paralelo com a história do golpista, o currículo tem o mesmo mecanismo, sendo o interesse aqui alçar uma vaga de estágio. Cabe a atenção para não investir na admissão, treinamento e desenvolvimento com quem não se encaixa em seu negócio. Portanto, é importante ficar ligado e tentar tirar o máximo de cada um durante o processo seletivo. Afinal, ninguém quer ser personagem de uma história de fraude.
O poder da sinceridade no processo seletivo
Ser capaz de contar sua trajetória pessoal e profissional em uma narrativa coesa pode fazer a diferença entre conseguir ou não aquela oportunidade no universo empresarial. De acordo com o executivo de vendas do Facebook, Luciano Santos, a maneira como falamos sobre nosso passado diz muito sobre nós mesmos, além de ser uma ferramenta poderosa para nos conectarmos com o entrevistador. “Nós somos programados para contar e ouvir bons relatos e isso vale também na hora de uma entrevista”, diz.
Para Santos, todo nosso investimento em energia e tempo nos ensina algo. Desse modo, conforme ele, devemos dar conotação positiva a essas lições. “Precisamos valorizar nossa caminhada”, afirma. Uma troca de faculdade no meio do percurso e anos fazendo algo distante de nossos sonhos precisam ser sentidos e destacados na hora da seleção. “Procure ressaltar seus aprendizados com essas experiências e como elas te fizeram amadurecer e reunir forças para dar o próximo passo”, comenta.
Da mesma maneira, atividades extracurriculares aparentemente não relacionadas à posição em questão não precisam ser apagadas, podendo ser contadas com orgulho e de maneira positiva. “Fez um curso de dois anos bem intenso de teatro? Conte como ajudou a se comunicar e se expressar melhor. Organizava a banda da igreja? Conte dos seus maiores desafios e vitórias enquanto participou disso”, recomenda o executivo.
Portanto, a sinceridade e honestidade entre avaliadores e candidatos é algo essencial para ambos. Afinal, apenas andando juntos em direção ao mesmo objetivo, o sucesso será alcançado!